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Jazz plus Electronic Music - UK Acid Jazz: da prática do rare groove inglês à discotecagem; do jazz-funk à house music


O acid jazz foi um movimento que se originou na Inglaterra em meados dos anos 80 e que foi se definindo como um estilo de urban music a partir da cultura do rare groove: a partir da sina de produtores e DJ's colecionadores de álbuns de jazz, soul, disco e funk e R'n'b. Na verdade, em termos estéticos podemos dizer que os principais precursores do estilo foram músicos de jazz como o trompetista Donald Byrd, o vibrafonista Roy Ayers e o pianista e tecladista Lonnie Liston Smith, os quais produziram algumas das pérolas mais puras e ilibadas do jazz-funk na segunda metade dos anos 70, com registros já imersos nos primeiros efeitos eletrônicos de teclados e sintetizadores -- esses músicos, aliás, são desde sempre listados como influencias primordiais nos universos do hip hop, acid jazz e neo-soul. Na Inglaterra, um dos produtores que pode ser considerado um dos "pais" do acid jazz é Norman Jay, um colecionador de discos e DJ (foto abaixo à esquerda) que foi um dos protagonistas do movimento inglês de rádios piratas: a ele credita-se, inclusive, a invenção do termo "rare groove". O que desencadeou o estilo foi o fato de que, além desses DJ's e produtores fomentar o surgimento de um público de jovens ávidos por audições de raridades e verdadeiras pérolas -- e, por consequência, também fomentarem o surgimento de grupos e bandas locais de soul e jazz-funk --, eles também começaram a produzir remixes com esses LP's: ou seja, começaram a usar esses discos para realizarem discotecagem nas rádios e clubes de dança ingleses, adicionando efeitos eletrônicos diversos sobre as faixas originais -- aí começa a nascer o cenário do acid jazz e, paralelamente, o cenário da música eletrônica inglesa com um ímpeto tão forte quanto o movimento hip hop, que explodia nos EUA na mesma época. O termo "acid jazz" foi cunhado, inclusive, pelo DJ, colecionador de discos e produtor Gilles Peterson, quando ele também já era um dos protagonistas das rádios piratas que começaram a fazer a cabeça dos jovens ingleses. Posteriormente, Gilles Peterson se associou ao colecionador e produtor Eddie Piller e juntos abriram uma gravadora chamada justamente de Acid Jazz Records, sendo, desde então, um dos primeiros e principais nascedouros de grupos e bandas que sedimentaram o gênero. 


Uma das primeiras bandas de acid jazz que se pode considerar uma precursora e pioneira do estilo é a Incognito, do produtor Jean-Paul 'Bluey' Maunick, que teve seu debut justamente com um disco intitulado Jazz Funk, em 1981. Mas o acid jazz se estilizou definitivamente, mesmo, na segunda metade dos anos 80 a partir de bandas como James Taylor Quartet, Brand New Heavies, Galliano, Young Disciples e Urban Species (que foi uma das pioneiras, também, do hip hop no cenário inglês). Revezando-se entre o acid jazz instrumental e o soul vocal -- já bem ao estilo da discotecagem inglesa, aliás -- essas bandas e grupos começaram a criar uma música de grooves repetidos e atmosferas inebriantes com efeitos eletrônicos que já advinham da influencia da house music americana, a partir do uso de drum machines e sintetizadores como os modelos digitais Roland TR-808, TR-90, TR-707 e TB-303 -- lembrando que esses novos efeitos digitais passaram a ser combinados com a sonoridade lounge dos pianos elétricos (Fender Rhodes) e sessões de instrumentos de metais aqui e alí, o que ainda confere ao acid jazz uma tênue conexão com o jazz acústico. Essa fusão ficou mais evidente a partir de bandas como D-Influence e Jamiroquai a partir do início dos anos 90 e, principalmente, quando muitos dos principais DJ's americanos de house music começaram a discotecar nos clubes ingleses, inclusive fazendo remixes sobre faixas compostas por essas bandas inglesas -- lembrando que o remixe é uma prática muito importante dentro do acid jazz, assim como o sample é importante dentro do hip hop. (Nos EUA, inclusive, os álbuns Doo-Bop de Miles Davis, o projeto Buckshot LeFonque de Branford Marsalis e o projeto Jazzmatazz do rapper MC Guru são exemplos de fontes que incorporam um pouco do acid jazz). Outro músico que é presença forte no cenário do acid jazz inglês é o legendário saxofonista Courtney Pine, que inicialmente flertou com o cenário do neo-bop e post-bop americano nos anos 80, mas depois focou-se totalmente no efervescente movimento do seu país. À medida que as variantes de música eletrônica -- house, techno, drum'n'bass, trip hop, downtempo e etc -- foram invadindo os clubes ingleses, o acid jazz perdeu seu espaço e popularidade, mas continuou como uma influência forte no ideário de contemporaneidade dos músicos ingleses. Em 2006, o sempre ativo DJ Gilles Peterson fundou a label Brownswood Recordings, pela qual o ouvinte mais curioso pode encontrar versões mais contemporâneas do acid jazz inglês.









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