Jazz: bebop, hard-bop, post-bop, jazz-funk, free jazz, modern creative, jazz contemporâneo. Avant-garde: free improvisation, noise music, música experimental. Música Eletrônica. Música Instrumental Brasileira. Música Erudita Contemporânea. Música instrumental em geral.
Saxophonist, flutist, and composer Henry Threadgill has transformed the music over and over with Air, the Sextett, Very Very Circus, Zooid, and more.
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Giovanni Russonello: “5 Minutes That Will Make You Love Mal Waldron.” Includes Lafayette Gilchrist, Ran Blake, Matthew Shipp, Angelica Sanchez, Robin D.G. Kelley, Fay Victor, Andrew Cyrille, Ben Ratliff, John Szwed, Russonello, and myself. [Gift link.]
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As a tribute to the South African drummer who has died aged 85, we have made two articles in our online magazine archive free to read
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— The Wire Magazine (@thewiremagazine)
June 18, 2025
MÚSICO/ BANDA/ ENSEMBLE/ ALBUM DA SEMANA (01)
★★★★- adjust - Anna Webber, Ken Thompson & Anzu Quartet (Cantaloup Music, 2025)
Atualmente, neste início de século 21, é um percurso natural que os músicos mais criativos do jazz adentrem o universo composicional da música erudita. Neste álbum, Anna Webber adentra o universo da música de câmara contemporânea, apresentando uma obra marcada por ecos do jazz, da livre improvisação, das técnicas estendidas e por uma paleta de referências que vai do avant-garde de Anthony Braxton à música espectral de Gérard Grisey, considerando ainda ecos advindos de Olivier Messiaen. Lançado em 25 de abril de 2025 pela gravadora Cantaloupe Music, adjust marca também a estreia fonográfica do Anzû Quartet —— formado por Olivia De Prato (violino), Ashley Bathgate (violoncelo), Ken Thomson (clarinete) e Karl Larson (piano) —— quatro intérpretes consagrados da cena de música contemporânea de Nova York, numa formação inspirada na instrumentação do Quatuor pour la fin du temps, de Olivier Messiaen. O projeto apresenta duas obras de fôlego: a suíte adjust (cinco partes), composta em 2022 por Anna Webber especialmente para o quarteto, e a tríptica Uneasy (três movimentos), escrita por Ken Thomson entre 2017 e 2019 e originalmente encomendada pelo Unheard-of//Ensemble. Com duração total de 40 minutos, o álbum traz um encarte de 16 páginas com notas de Karl Larson, detalhando os procedimentos composicionais empregados pelos dois criadores. Uma atenção especial é necessária para compreender o conjunto de processos que Anna Webber incorpora em cada camada de suas peças. Além das seções previamente estruturadas e totalmente notadas, a compositora inclui gestos rítmicos sem alturas definidas, concedendo ao intérprete liberdade para determinar as notas específicas. Em outros trechos —— como no terceiro movimento —— Webber exige que cada músico combine ou mescle “material primário” e “material secundário”. Há também passagens em que a compositora sugere que os integrantes do quarteto improvisem contrarritmos e contrapontos polirrítmicos sobre as linhas escritas, iniciando juntos, mas sem sincronização. Em momentos adicionais, ela solicita que os músicos interponham o “material secundário” sobre o “material primário” à vontade, interrompendo e reformulando a textura previamente estabelecida. Seguindo uma linhagem trans-idiomática que dialoga com os jogos e rituais composicionais de Anthony Braxton, Webber busca revelar um todo coeso que, apesar dos numerosos elementos experimentais, mantém um senso idiomático próprio. Fiel à sua prática de integrar improvisação livre às estruturas notadas, a compositora abre espaço para que o clarinete improvise à vontade no quarto movimento, instruindo Ken Thomson a “improvisar livremente” sobre as camadas suavemente repetitivas entrecruzadas por violino, violoncelo e piano. Assim, interpolações, enxertos, bitonalidades, atonalidades e efeitos assíncronos coexistem em um conjunto inventivo e repleto de surpresas. Esteticamente, adjust situa-se na intersecção entre música de câmara contemporânea e elementos oriundos do jazz experimental, incorporando técnicas estendidas —— uso não convencional do arco e dos sopros, pizzicatos, multifônicos, microtonalidades, timbres percussivos e improvisação controlada —— para criar um discurso que oscila entre o sombrio e o luminoso, alternando tensão e fluidez em fluxo contínuo. A peça-título reflete o “ajuste” entre escrita e improvisação: o termo funciona como metáfora para a retomada da vida e das atividades no período de encerramento dos lockdowns e do retorno pós-pandemia, explorando, de forma imagética, muitos dos contrastes e complexidades daquele momento. Já Uneasy, de Ken Thomson, traduz em textura cinética as ansiedades do mundo moderno. Trata-se de um registro que nos permite atestar, com clareza, as intenções criativas e inovadoras de Anna Webber nesse território mais erudito da new music. Uma das surpresas de 2025!
Lançada pela Philips em 1967, a série de LP's Prospective 21 Siècle é um artigo de luxo para colecionadores
A maior coleção de música erudita eletrônica do século XX é a série de álbuns de vinil Prospective 21 Siècle, lançada pela Philips de 1967 à 1972. Com curadoria de dois pioneiros e estudiosos da composição e manipulação eletrônica, François Bayle e Pierre Henry, o catálogo reúne mais de 50 LP's, documentando uma paleta enorme de experimentos, composições e manipulações sonoras inéditas. Em se tratando da série como um todo, sem dúvidas este é um dos maiores documentos da história da vanguarda erudita, reunindo os principais e proeminentes compositores europeus e japoneses que estavam focados em música eletrônica na segunda metade do século XX -- o que é não é pouca coisa, se considerarmos que a música eletrônica, enquanto linguagem composicional (leia-se música concreta), só começou a se desenvolver a partir da peça Étude aux chemins de fer, composta por Pierre Schaefer em 1948, sendo ainda, portanto, uma estética que estava em constante expansão. Outra observação curiosa é o fato da Philips Records, fundada pela gigante companhia neerlandesa vendedora de utensílios eletrônicos, ter dando evidência para este tipo de música tão experimental -- talvez isso só tenha sido possível pelo fato da Philips Records e a Deutsche Grammophon, selo de música erudita, terem sido fundidas, em 1962, no empreendimento conjunto Phonogram Records, que tornaria-se posteriormente a PolyGram. Lançada em francês -- e posteriormente em países com maior abertura à música eletrônica tais como Japão, Holanda Inglaterra e Espanha --, os LP's da série são dotados de incomparável beleza gráfica, conferindo-lhe um visual tecnológico e futurista: a maioria dos álbuns foram confeccionados através de um conceito gráfico chamado “Procédé Heliophore”, uma técnica que permite fazer impressões gráficas sobre papel alumínio, técnica originalmente desenvolvida em 1930 por Louis Defay. De certo, esta série de LP's influenciou muitos veteranos e jovens compositores em sua época, mas nos últimos anos estes registros passaram de desconhecidos para artigos de luxo nas estantes dos grandes colecionadores. Com advento das buscas pela internet, a série de LP's também segue chegando ao conhecimento da atual geração, influenciando grupos, bandas e jovens artistas aficcionados em música eletrônica. É o que mostra o grupo Clipping., ambientado em fusões das estéticas hip hop, noise, industrial e música erudita eletrônica. O segundo álbum do grupo, Splendor & Misery (Sub Pop, 2016), resgata não apenas excertos sonoros da série Prospective 21 Siècle, mas também evoca um tanto da sua caricatura gráfica. É o que mostra também os álbuns da GRM Collection que apresenta os jovens compositores amparados pelo centro de música eletroacústica INA, sediado na Rádio da França. Tendo sido lançada com edições limitadíssimas, completar a coleção de álbuns da série Prospective 21 Siècle é uma tarefa muito trabalhosa, para não dizer impossível -- tanto pela raridade, quanto pelos preços que alguns deles são vendidos em sites como Amazon e ebay. É notável também que um dos ensembles regulares da série seja o Les Percussions de Strasbourg, formados por seis intérpretes especialistas em percussão e eletroacústica.