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Best Jazz and Free Improv Albums of 2010's: 153 registros criativos e representativos da 2ª década do século 21


2010 à 2019: a década das misturas, dos hibridismos e individualismos!!! A década de 2010 marcou a guinada do "modern creative" e da confluência e mistura de estilos, sonoridades e individualidades nos cenários do jazz e da free improvisation em todo o mundo. Músicos jovens como o trompetista Peter Evans e a guitarrista Mary Halvorson, levaram o improviso para um novo patamar de sofisticação com a tendência de misturar as reminiscências do free jazz com efeitos eletrônicos, e começaram a comportar suas livres improvisações repletas de técnicas estendidas dentro de estruturas composicionais um tanto elaboradas em termos de harmonia, melodia e contraponto, nos evidenciando um free jazz que já não é apenas ruidoso, mas agora é cada vez mais composicional, com temáticas e estruturas elaboradas que se configuram entre o livre improviso, os efeitos eletrônicos e o intrincado fraseio linguístico. Saxofonistas vulcânicos ainda ligados às influências da "velha guarda" do free jazz dos anos 60 e 70 -- tendo como influências Joe McPhee, Peter Bröztmann e companhia -- também continuaram expandir suas abordagens trazendo adereços do rock e até do pop: casos de Ken Vandermark, ambientado em Chicago, e do sueco Matts Gustafsson, dois dos expoentes que criaram bandas e projetos onde inserem elementos e releituras que vão do rock ao pop sem empobrecer a arte do livre improviso, vide os projetos Marker e The Fire! Orchestra. No cenário português, a gravadora Clean Feed fomentou uma onda de criatividade que chamou a atenção até mesmo dos principais músicos americanos, que viram em Lisboa um novo reduto capaz de absorver suas singularidades. 

Por outro lado, músicos americanos ligados à "black music", como o trompetista Christian Scott e o pianista e tecladista Robert Glasper, expandiram os conceitos em relação à diáspora afro-americana através dos movimentos do hip hop e do neo soul e criaram versões ultra contemporâneas que atualizam as influências deixadas pelo jazz-funk setentista de Donald Byrd, Herbie Hancock e Roy Ayers. Enquanto isso o trompetista Jeremy Pelt passeia entre o post-bop e o fusion, atualizando as influências deixadas por Miles Davis a partir da segunda metade dos anos de 1960. Músicos veteranos como o vibrafonista Gary Burton e o guitarrista Nels Cline antenaram-se ao post-bop contemporâneo e uniram-se aos músicos mais jovens para manter viva a chama da atemporalidade que sempre foi a marca do jazz -- mantendo o jazz como uma seara criativa onde os mestres são resgatados e venerados mesmo em meio às novas correntes trazidas pelos jovens. Na Inglaterra, bandas como Gogo Penguin e Phronesis Trio expandiram as abordagens do piano-trio com levadas rítmicas e melodismos advindos de gêneros como pop, minimalismo, eletrônica e "indie rock", criando versões acústicas e cristalinas de um "novo jazz" que, na verdade, teve suas origens nos anos 2000 com expoentes como Brad Mehldau e o piano-trio de Esbjorn Svensson. Esse jazz mais jovem e palatável dos piano-trios nos faz lembrar, ainda, do rico fenômeno pelo qual passa o cenário inglês como um todo: muitos músicos e novas bandas surgiram embebecidos pelo "acid jazz" inglê dos anos 90 e 2000, mas agora com variadas influências e denominações acrescentadas tais como nu jazz, broken beat, electronic jazz, neo soul, new age, UK garage, entre outros. Por fim, podemos dizer que as variantes em torno daquele neo bop e post-bop advindos ainda da influência da diretriz straight-ahead de Wynton Marsalis (muito forte nos anos 80 e 90) foram se esgotando e se diluindo em versões mais cada vez mais flutuantes, funkeadas ou em grooves inusitados em compassos ímpares, em alguns casos marcados ainda pela influência da estética do m-base, conceito expansivo e híbrido que desde os anos 80 o saxofonista Steve Coleman vem apregoando. Músicos americanos como o pianista Vijay Iyer, os saxofonista Rudresh Mahantappa e Steve Lehman e o trompetista Ambrose Akinmusire criaram, por exemplo, seus próprios vocabulários onde as reminiscências da linguagem bebop surgem transfiguradas entre influências que vão da música carnática indiana, passam pelo m-base e vão até ao hip hop, respectivamente. 

Em termos de naipes, podemos dizer que se os anos 2000 foram dos pianistas, a década de 2010 foram dos guitarristas: eles foram responsáveis por alguns dos registros mais criativos dos últimos anos em termos de sonoridades e abordagens diversas. Já os bateristas e contrabaixistas expandiram seus vocabulários através do uso de criativos grooves e linhas de baixos contrapontísticas e através de "break beats" advindos das batidas eletrônicas polirrítmicas e das marcações do pop e hip hop, indo para muito além daquela marcação com convencional "walking bass" em compassos ternários e quaternários: casos dos bateristas Eric Harland, Kendrick Scott e Nate Smith. Ademais, em termos de sonoridade, podemos dizer que a música eletrônica deixou de ser aquela remota influência purpurinada que só era usada no fusion e na música pop dos anos 70 e 80 para ser, de fato, um ingrediente imprescindível para o jazz do século 21, assim como a música eletroacústica deixou de ser sinônimo de vanguarda erudita para adentrar-se completamente ao livre improviso: vide, por exemplo, os registros dos saxofonistas Seamus Blake e Chris Potter, que usam efeitos eletrônicos -- vintages e novos -- como uma forma de produzir um certo frescor contemporâneo em suas abordagens em torno do post-bop; vide, por exemplo, registros do baterista Mark Guiliana e do pianista Brad Mehldau, que começaram a explorar juntos desde a bateria eletrônica até os mais novos e tecnológicos teclados e sintetizadores; vide, por exemplo, as explorações de ruídos orgânicos com ruídos eletroacústicos do saxofonista John Butcher e das explorações em laptop da artista japonesa Ikue Mori. 

Contudo, a lista de álbuns que indico abaixo considera não apenas as "tendências", as "novidades" e os registros criativos em termos de novas misturas de sonoridades e novas inflexões estéticas, mas considera as mais variadas abordagens sob os mais variados instrumentos, incluindos os músicos que ainda tentam dar novo frescor para estilos já tarimbados: do registro indicado ao Grammy ao álbum mais "underrated"; do violino à tuba, passando pela harpa e acordeon; dos arredores mais tradicionais até os registros experimentais mais inclassificáveis; dos que seguem a linhagem propagada no Jazz at Lincoln Center aos que seguem a miscelânea experimentalista de John Zorn e sua gravadora Tzadik. Afinal de contas, estamos numa fase das artes onde o "velho" se mistura ao "novo" e vice-versa, onde todas as estéticas e individualidades se misturam em uma indefinição coletiva, e, portanto, já ficou ultrapassada as dicotomias entre "avant-garde" e "mainstream" entre "novo" e "velho", pois praticamente não há como diferenciar hoje em dia o que é vanguarda do que é clichê, uma vez que alguns dos próprios procedimentos e adereços da vanguarda já se tornaram tão repetitivos quanto determinados procedimentos e adereços midiáticos e culturalmente convencionais.

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