Arquivo do Blog

Organs, Keyboards & Synthesizers - Synth-pop, Techno & Ambient music: uma radiografia da eletrônica dos anos 70's e 80's em 20 álbuns criativos com Tangerine Dream, Kraftwerk, Jean-Michel Jarre, Yellow Magic Orchestra e etc


No post anterior fizemos algumas indicações de alguns dos principais álbuns de músicos de jazz a abordar a eletrônica. Depois da música concreta e eletroacústica de Pierre Henry, Schaeffer, Stockhausen, Berio, Boulez...etc, etc... se o jazz não foi o único caminho por onde a eletrônica começou a se popularizar e a revolucionar a música popular -- visto que muitas das bandas de rock também já vinham usando os primeiros orgãos e sintetizadores desde meados dos anos 60 --, podemos ter a certeza de que foi por meio do jazz que a eletrônica dos teclados portáteis iniciou sua jornada experimental, criativa, improvisativa e começou a ganhar designs futuristas. Basta ouvir as amostragens transcendentais de Sun Ra, que começou a experimentar os primeiros orgãos de osciladores à vácuo já nos anos 50. Depois vieram Herbie Hancock, Miles Davis, Chick Corea, Joe Zawinul, Lyle Mays..., (dentre outros especificados aqui no nosso post anterior) que deram uma sequência cada vez mais elaborada nessa fase inicial do uso criativo dos orgãos, teclados e sintetizadores portáteis. Mas o protagonismo da inovação eletrônica não era um fenômeno apenas americano, mas um fenômeno mundial. No início dos anos 70, em paralelo ao cenário americano do jazz fusion, tínhamos ao menos dois redutos criativos que também são considerados nascedouros da música eletrônica, propriamente dita: o cenário experimental da Alemanha Ocidental, com seu distinto rock experimental, mais rotulado como krautrock ou kosmiche musik; e o cenário japonês, que já vinha sendo moldado pela ascensão econômica e, por consequência, pela ascensão tecnológica através do seu eminente crescimento na produção de equipamentos eletrônicos em geral. Dessa Alemanha do pós-guerra, então dividida pelo Muro de Berlim, dois grupos começaram a de destacar: Kraftwerk nascido em Düsseldorf, e Tangerine Dream nascido no cenário underground de Berlim Ocidental. Ambas as bandas tiveram como inspiração o avant-garde e o rock progressivo num primeiro momento da sua jornada de experimentação acústica, mas aos poucos foram adicionando sintetizadores, pianos elétricos e sequenciadores para criar uma nova música instrumental baseada 100% em eletrônicos. O Kraftwerk criaria um estilo de música que seria mais tarde rotulado como synth-pop, que é considerado um dos primeiros estilos de música eletrônica, propriamente dita. E o Tangerine Dream foi precursor de uma eletrônica mais no estilo de uma ambient music, mas empreendendo-se em diversas amostragens que também contribuíram para o subgênero da dance music. Enquanto isso, na França, Jean-Michel Jarre acabara de participar como membro do Groupe de Recherches Musicales do compositor erudito Pierre Schaeffer e acabava de conhecer um dos primeiros modelos do sintetizador Moog, e iniciava, então, suas primeiras gravações de uma série revolucionária de registros no campo da ambient music, além de começar a criar um conceito de show repleto de luzes e efeitos que popularizou ainda mais sua arte musical. Essa predileção dos novos artistas europeus pela eletrônica dos sintetizadores portáteis é uma inclinação nada menos que natural, visto que o Velho Continente já havia passado por uma primeira onda de revolução eletroacústica com os compositores eruditos e seus enormes sintetizadores de estúdio. Nos álbuns destacados abaixo, podemos presenciar alguns dos principais orgãos e sintetizadores portáteis europeus: o orgão italiano Farfisa, os protótipos ingleses do Mellotron e da EMS, o sintetizador holandês Eminent 310 Unique, o sequenciador alemão Synthanorma... Mas a Europa e os EUA não seriam os únicos protagonistas. Em meados dos anos 70 emergia no Japão -- outro país com predileção pelo ruído eletrônico -- os trabalhos dos membros da Yellow Magic Orchestra, que estavam prestes a mostrar ao mundo sua futurista techno music, inovando sobremaneira a eletrônica com uma efetiva transição da tecnologia analógica para a tecnologia digital. Segue abaixo, então, alguns clássicos principais dessa fase inicial da eletrônica pop. Ouça a playlist no final do post. Clique nos álbuns para ouvi-los.

Ambient & space music: Jean-Michel Jarre, Tangerine Dream & Klaus Schulze

O Tangerine Dream é uma das mais importantes bandas da história da música eletrônica -- e da música contemporânea como um todo. A produção discográfica do Tangerine Dream, que é um dos grupos que fundaram o gênero da música eletrônica junto ao Kraftwerk -- primeiramente sendo influenciado pelo próprio Kraftwerk, aliás, mas logo em seguida já criando seu próprio conceito e sonoridade --, é uma produção vasta, com variabilidades de direções estéticas e cheia de excelentes registros. Mas aqui quero destacar estes dois clássicos (Phaedra, acima, e Encore, abaixo) para exemplificar como que este seminal grupo alemão expandiu sobremaneira sua sonoridade. Veja acima que o grupo inicia com uma síntese sonora reduzida que é bem característica da música contemporânea alemã da época: uma combinação de EMS VCS3 com orgão Farfisa e Mellotron (com efeitos de Moog e o Fender Rhodes sendo usado pontualmente). Mas abaixo, três anos depois, temos o registro de um dos grandes shows ao vivo do grupo nos EUA onde já se presencia a inserção de novos eletrônicos americanos da ARP, Oberheim em combinação com o italiano ELKA e projetos e protótipos alemães de sequenciadores mais específicos tais como o Palm Products GmbH 1020, o Projekt Elektronik synth & sequence e o Computerstudio digital sequencer, já prenunciando o uso do computador e o surgimento da eletrônica digital. Inicialmente influenciados pelo rock progressivo do Pink Floyd, os tecladistas Edgar Froese, Christopher Franke e Peter Baumann vão aos poucos inserindo esses e outros eletrônicos às sonoridades do Tangerine Dream, fazendo com que a banda se torne uma verdadeira legenda da nova eletrônica. Muito embora vê-se, equivocadamente, a história do Tangerine Dream cristalizada com o rótulo da ambient music -- e muitos ainda creditam à banda o surgimento da variante new-age, o que é ainda mais equivocado --, o grupo variou bastante suas amostragens frequentemente transitando entre os estilos rock progressivo, o ambient, a space music e a dance music. Quer dizer: junto à Jean-Michel Jarre, o Tangerine Dream foi, sim, um dos artífices da eletrônica ambient, mas foi uma das bandas do início da música eletrônica que mais variaram as temáticas e abordagens em suas paisagens sonoras, indo do rock ao pop. Os álbuns dos anos 70 da banda -- antes da sua fase mais comercial dos anos 80 -- também são distinguidos pelas longas faixas em formato de suítes que levam o ouvinte para uma viagem por várias dimensões e paisagens sonoras, geralmente tendo apenas duas longas faixas,  uma de cada lado do LP.


 
28 - Timewind (Virgin, 1975)
Klaus Schulze plays ARP 2600 ARP Odyssey EMS Synthi AKS Farfisa Elka String Synthesizer Synthanorma Sequencer

O surrealismo repaginado pelas vias de um determinado futurismo tecnológico foi uma das principais diretrizes dessas novas bandas e novos músicos. As misturas do pop de então com a eletroacústica erudita, a transcendência das ragas indianas, os elementos minimalistas que acabavam de surgir -- a drone music, as séries de repetição e a ambient music de Brian Eno... -- também foram sendo aos poucos incorporados nas novas composições eletrônicas desses novos agentes da contemporaneidade através dos orgãos e sintetizadores portáteis. Dois nomes que criaram composições eletrônicas de grande requinte futurista com essas diretrizes foram os tecladistas Klaus Schulze (que começou tocando com o Kraftwerk, mas depois seguiria destacada carreira solo), e Jean-Michel Jarre (que vinha de uma imersão com o mestre da música concreta e eletroacústica Pierre Schaeffer e seu Groupe de Recherches Musicales). Ambos os álbuns, (este acima, e este abaixo), são clássicos precursores e primordiais do subgênero conhecido como "ambient music", que logo também daria vida à "new age" (uma espécie de ambient music para meditação ou de cunhos espirituais). Mas ainda aqui nestes dois registros precursores, afora as características próprias de cada álbum, um caráter em comum é a criação de paisagens sonoras que têm o papel de provocar sensações de transcendência, surrealidade e atemporalidade no ouvinte. Em Timewind o tecladista alemão  Klaus Schulze mostra uma incomum imaginação ao criar  composições com títulos e  leitmovs em referência ao compositor do século 19 Richard Wagner: sua ambiência com o sintetizador inglês EMS Synthi AKS, o orgão italiano Farfisa e o sequenciador alemão Synthanorma Sequencer (marca registrada do Kraftwerk) constitui-se em um design emblemático para a época -- e ainda que diversos outros nomes do rock, do jazz e da eletrônica já estivessem usando pontualmente esses eletrônicos, este disco é um dos exemplos da mais alta arte no que diz respeito ao uso extensivo e criativo dos mesmos. Já Oxygene é a obra que inicia a fase de superproduções eletrônicas de Jean-Michel Jarre e  revela a arte do tecladista francês ao mundo, vendendo inacreditáveis 100.000 cópias em entre 1976 e 1977 -- e aproximadamente 20 milhões de cópias, em números atuais. O álbum, um marco da eletrônica ambient, traz a mesma ambiência com EMS Synthi AKS e Farfisa -- incluindo citações à sonoridade barroca do pipe organ em determinado momento --, mas acrescenta ao seu design sonoro os mais novos e mais modernos sintetizadores tais com o americano R.M.I. Harmonic, os ingleses EMS VCS3 e Mellotron e o holandês Eminent 310 Unique, já evidenciando uma eletrônica mais expansiva, cheia de efeitos eletroacústicos e bem à frente do seu tempo. Trata-se de uma obra, aliás, que faz uma ponte entre passado e futuro.





Synth-pop: dos computadores à robótica, as profecias sonoras do Kraftwerk
30 - Autobahn (Kling Klang, 1974)
Kraftwek plays 
Minimoog ARP Odyssey EMS Synthi AKS Farfisa electronic drums vocoder
O Kraftwerk também é considerado um dos grupos/bandas mais importantes da história da música moderna e contemporânea -- considerado, por muitos, mais influentes até mesmo que os Beatles, uma vez que as temáticas da suas canções e o raio de influência das suas inovadoras sonoridades transpassaram inúmeros limites estéticos nos anos 70 e 80, chegando a influenciar bandas pós-punk, abrindo caminho para a pop music contemporânea, para a música essencialmente eletrônica, além de também influenciar o hip hop -- ou seja, a quantidade de artistas, músicos e bandas de vários gêneros que passaram a citar o quarteto alemão como influência não é pequena. O quarteto Kraftwerk surgiu no final dos anos 60 ainda sob a onda das influências experimentais do rock psicodélico e do krautrock alemão. Porém, já no início dos anos 70, o quarteto e seus músicos convidados passaram a produzir uma nova música eletrônica que é distintamente considerada por críticos de todo o mundo como o início genuíno da música eletrônica pop que a partir dos anos 80 tomaria direções próprias nas mãos dos primeiros DJs. Com um estilo singular posteriormente rotulado de sinth-pop e com uma gama de novas e diferentes possibilidades eletrônicas, incluindo o uso de vocoders específicos para gerar vocais robotizados, seus primeiros registros até continham alguns instrumentos acústicos no início dos anos 70, mas que foram sendo gradativamente substituídos apenas por instrumentos eletrônicos e psicodélicos, o que surtiu efeito numa música nova, essencialmente eletrônica -- ou seja, já bem diferente da eletrônica produzida pelos músicos do jazz-fusion, os quais buscavam combinações, atmosferas e timbrísticas que também viessem a valorizar os instrumentos acústicos em interações com os sintetizadores. Além de ser frequentemente lembrada como uma banda que usou toda a gama de tecnologia sonora para criar uma música inovadora, o Kraftwerk também é lembrado pelos designs gráficos e sonoros dos seus álbuns, e pelas canções conceituais  que já entre meados dos anos 70 e 80 traziam alertas para dilemas sociais tais como: as implícitas ameaças das armas radioativas (algo bem comum na Guerra Fria), os impactos da robótica no cotidiano das pessoas, a dependência tecnológica com um mundo que rumava para ser totalmente computadorizado e vários outros dilemas da vida urbana. Algumas reflexões geradas pelas temáticas futuristas do quarteto, aliás, ainda nem eram tendências da época: eles praticamente adotaram temáticas proféticas para questões e dilemas que só passaríamos a perceber mais recentemente pós década de 2010 -- isso já entre a passagem dos anos 70 para os anos 80 do século passado, quarenta anos atrás. Quer dizer: boa parte da música produzida pelo Kraftwerk é instrumental, mas eles praticamente adotaram um design minimalista criativo onde essa áurea futurista e profética ficava explícita: na capa dos seus álbuns, nas novas sonoridades, nos títulos dos temas e nas letras dos poucos vocais que eram sempre robotizados pelo uso de vocoders. 


Essa guinada mais inovadora começa a atingir seu ápice no álbum Autobahn (Philips, 1974), onde a banda usa combinações hiper criativas com Minimoog, ARP Odyssey, EMS Synthi AKS e teclados Farfisa, além de ser um dos primeiros registos a popularizar as batidas de drum machine. Em seguida a banda lança Radio-Activity" (com um trocadilho entre a atividade do rádio e radioatividade, lançado em 1975), que já é um álbum mais conceitual, pois além dos trocadilhos nos títulos das faixas, a instrumentação já não apresenta o uso de violino, flauta, violão ou guitarra, sendo composta unicamente de sons de ondas de rádio e os sons eletrônicos dos sintetizadores, orgãos e drum machines: além dos habituais Micromoog, Minimoog e Farfisa, e das baterias eletrônicas (drum machines), esse álbum também trouxe a novidade do teclado chamado de Vako Orchestron, que permitia a adição de uma orquestração eletrônica com coro, cordas e órgão. Também indico abaixo os álbuns Trans-Europe Express (1977) e "The Man-Machine" (1978), que foram os álbuns que praticamente influenciaram toda a música pop emergente. Nesta fase do final dos anos 70, continuando com a instrumentação estritamente eletrônica, o Kraftwerk inclui várias novidades tais como o sintetizador vocal Votrax, os sequenciadores rítmicos Synthanorma Sequenzer e a série dos sintetizadores Prophet da Sequential Circuits (espécies de teclados polifônicos, pioneiros do áudio digital com sequenciadores de memória). Trans-Europe Express (1977) e "The Man-Machine" (1978) são, portanto, os álbuns que efetivam a estética do sinthpop, além de abrirem as portas para a techno music logo adiante. Logo em seguida temos o Computer World, que, mais uma vez de forma precursora, faz uso de um rudimentar software e insere, de forma praticamente profética, a temática dos computadores como um dilema social. E por fim, indico abaixo o álbum Electric Cafe (1986), que é o registro onde o Kraftwerk abraça de vez a sonoridade digital -- com Synclavier II, os novos sintetizadores da Yamaha, com interfaces MIDI, os novos machine drums e tudo o que tinha direito -- e enfurece seus fãs e críticos mais adeptos: atualmente, aliás, esse álbum passa por novas críticas e revisões que dizem que, apesar dessa gravação ter enviesado o som do quarteto para uma direção mais digital e ter desagradado o público e a crítica da época -- e ter desagradado os próprios membros da banda, em termos do resultado alcançado --, trata-se de mais um dos clássicos imprescindíveis do quarteto e da música eletrônica digital.

31 - Radio-Activity (Kling Klang, 1975)
Kraftwerk plays vocoders Minimoog ARP Odyssey Micromoog Vako Orchestron machine drums Farfisa radio Votrax


32 - Trans-Europe Express (Kling Klang, 1977)
Kraftwerk plays Synthanorma-Sequenzer vocoders Minimoog ARP Odyssey Micromoog Vako Orchestron machine drums Farfisa Votrax

33 - The Man-Machine (Kling Klang, 1978)
Kraftwerk plays Synthanorma-Sequenzer vocoders Minimoog ARP Odyssey Micromoog Vako Orchestron machine drums Farfisa Votrax


34 - Computer World (Kling Klang, 1981)
Kraftwerk plays Synthanorma-Sequenzer Stylophone Hazeltine computer vocoders Minimoog ARP Odyssey Micromoog Vako Orchestron machine drums Farfisa Votrax


35 - Electric Cafe (Kling Klang, 1986)
Kraftwerk plays MIDI interfaces E-MU Emulator sampler vocoders Yamaha FM sinthesizers Sequential Circuits Drumtracks (drum machine) Synclavier II 


Techno-pop: entre o analógico e o digital, as inovações dos japoneses da YMO
Para quem é nascido na safra do final dos anos 70 e início dos anos 80 sabe o quanto a cultura japonesa nos divertia com suas séries de tokusatsu, animes e games de fliperama e joystick: Kamem Ridern, Akira, Jaspion, Jyban, Cybercop, Street Fighter, Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco)...e todos os similares que se estenderam até meados da década 90 -- antes que os celulares e as redes sociais viessem a dominar nossas vidas.... Pois bem... A música eletrônica japonesa dessa época, surfando na onda dos inovadores teclados e sintetizadores digitais da Roland e da Yamaha, foi assustadoramente inovadora e traz influências -- lógico! -- dessa cultura J-pop marcada pelas séries de tokusatsu, animes e games que marcaram o período do milagre econômico japonês. Não à toa, vários dos mais criativos compositores e músicos japoneses dessa época foram contratados para comporem trilhas para essas animações. E quatros nomes principais -- dentre outros: seria preciso fazer um post dedicado apenas à música criativa japonesa para não ser injusto... -- são justamente a Yellow Magic Orchestra, seus fundadores Haruomi Hosono e Ryuichi Sakamoto, e o programador e engenheiro de som Hideki Matsutake. Se o quarteto alemão Kraftwek fundaram, de fato, a música eletrônica com timbres robotizados e com os primeiros machine drums, então podemos dizer que os japoneses da Yellow Magic Orchestra levaram a música essencialmente eletrônica para uma definição ainda mais inovadora, detalhista, digital e efetivamente futurista.
36 - Thousand Knives (Nippon Columbia, 1978)
Ryuichi Sakamoto plays Moog III-C with Roland MC-8 MicroComposer Polymoog Minimoog Micromoog Oberheim Eight Voice Polyphonic with Digital Programmer ARP Odyssey KORG PS-3100 Polyphonic vocoder Korg VC-10 KORG SQ-10 analog sequencer Pollard Syn-Drums



                                             37
 B-2 Unit (Alfa Records, 1980)
Nessa época, na passagem dos anos 70 para os anos 80, a Yamaha, Roland e Korg lançaram vários sintetizadores e equipamentos inovadores no mercado mundial, rapidamente abrindo caminho para as interfaces digitais MIDI e destituindo a hegemonia pioneira dos exemplares analógicos americanos da Moog e ARP, que nunca deixaram de ser usados, mas agora já não seriam tão hegemônicos como foram até 1977. A Yellow Magic Orchestra mesmo ficou conhecida entre 1979 e 1980 por subir aos palcos com um exemplar do emblemático Moog III-C, um sintetizador modular de porte grande e rico de possibilidades, em combinação com ARP Odyssey e Oberheim 8 Voice, mas o trunfo de Haruomi Hosono, Ryuichi Sakamoto e Hideki Matsutake foi introduzir no sinth-pop os novos sequenciadores, sintetizadores polifônicos e vocoders da Korg e da Roland tais como o Roland MC-8 MicroComposer, o KORG PS-3100 Polyphonic, Korg VC-10 Vocoder e Roland VP-330 -- além de expandir o uso da série de polifônicos Prophets da Sequential Circuits, os quais já vinha sendo usados pelos americanos e europeus. O uso do sequenciador Roland MC-8 MicroComposer pela YMO e seus músicos é revolucionário: foi um passo adiante do Synclavier (por exemplo) e ampliou em muito as possibilidades das polirritmias e das inovadoras sincronias eletrônicas, pois o aparelho tinha uma inédita capacidade de armazenar mais de 5.200 notas -- que poderiam ser gravadas ou compostas com os timbres do próprio sequenciador -- e permitia gravar, sequenciar e sincronizar composições inteiras numa precisão e com timbragens até então impossíveis de produzir, podendo ser, também, plugados junto com outros sintetizadores e emuladores. O uso das versões inovadoras do Syn-Drums da Pollard, uma das primeiras baterias eletrônicas, também forneceu uma sonoridade ainda mais futurista em combinação com esses inovadores sequenciadores da Roland e sintetizadores polifônicos da Korg e da Sequential Circuits -- e também é um passo adiante em relação aos anteriores machine drums. Até hoje, o que mais intriga os revisores e entusiastas da eletrônica é essa capacidade que a YMO e seus quatro membros tiveram de criar uma verdadeira engenharia sonora nesta fase da eletrônica pré-MIDI, fazendo uma transição entre o synth-pop e a techno music mais intrincada.

38 Yellow Magic Orchestra (Alfa Records, 1978)
YMO plays Roland MC-8 MicroComposer Korg PS-3100 Polyphonic Korg VC-10 vocoder Yamaha Drums Pollard Syn-Drums Moog III-C Minimoog Polymoog ARP Odyssey Oberheim Eight-Voice Fender Rhodes
Aqui indico, ao todo, 11 gravações desse grupo de japoneses inovadores que revolucionaram a música eletrônica na passagem dos anos 70 para os anos de 1980. Indico seis álbuns da YMO, dois álbuns de Ryuichi Sakamoto, dois álbuns de Haruomi Hosono e um álbum do Logic System, que foi o grupo que o programador Hideki Matsutake formou após a dissolução da YMO. Apesar de todos esses álbuns serem imprescindíveis pela quantidade de combinações eletrônicas inéditas que eles dispõem, é preciso destacar que alguns álbuns foram mais conceituais e experimentais, enquanto outros foram mais pop e palatáveis. De qualquer forma, todos esses álbuns foram inovadores em termos de design sonoro e abriram as portas para várias combinações eletrônicas introduzidas no pop contemporâneo e para a techno music que infestaria os clubes de Chicago (onde surgiria a house) e Detroit (onde surgia a techno já como um subgêneros independente). O álbum B-2 Unit (Alfa Records, 1980) de Ryuchi Sakamoto é um dos registros mais inovadores da história da música eletrônica, pois a forma inovadora como Sakamoto elabora o design, as polifonias e polirritmias já prenunciam as combinações e intrincâncias rítmicas que só seriam assimiladas e só receberiam uma tratativa mais avançada nos anos 90 e 2000 em álbuns de DJs hiper criativos da estética IDM (Intelligent dance music) como Aphex Twin e Squarepusher: unindo a sua genialidade para o arranjo e design com a expertise da programação do engenheiro Hideki Matsutake, Sakamoto lança um verdadeiro tratado do design sonoro eletrônico através de procedimentos trabalhosos e complicados de edição, sincronia e sequenciamento através do Roland MC-8 MicroComposer em interface com os polifônicos da KORG, Prophet e Roland e bateria eletrônica, prenunciando as mais avançadas técnicas de sequenciamento e sampling. Outro dos registros mais experimentais são BMG e Technodelic, ambos lançados em 1981: em BMG, a YMO traz a novidade da caixa de ritmos Roland TR-808 Rhythm Composer e aplica diversos procedimentos de reverb, delays e experimentos com fitas magnéticas 3M e MCI em junção com os polifônicos já citados; enquanto em Tecnodelic a YMO nos traz a novidade do sampler Toshiba LMD-649 junto com piano preparado, ondas de rádio bidirecional e as interfaces polifônicas já citadas. Esses experimentos com esses primeiros sequenciadores, caixas de ritmos e samplers -- Roland MC-8, LMD-649, Roland TR-808 e etc -- fizeram da YMO e seus membros verdadeiros oráculos influenciadores da nova música pop pós-disco e do emergente hip hop, além de serem considerado verdadeiros deuses da música em Chicago e Detroit. Ademais, os trabalhos particulares de Hideki Matsutake e Haruomi Hosono também são emblemáticos e vanguardistas. Os álbuns Philharmony (1982) e S·F·X de Hosono apresentam um design sofisticado de misturas de tecno music, ambient e influências da cultura japonesa. Enquanto o álbum homônimo do Solid System apresenta toda a precisão cirúrgica da engenharia e programação de Hideki Matsutake.
 
39 XMultiplies (Alfa Records, 1980)
YMO plays Roland MC-8 MicroComposer Korg PS-3100 Polyphonic Korg VC-10 vocoder Yamaha Drums Pollard Syn-Drums Moog III-C Minimoog Polymoog ARP Odyssey Oberheim Eight-Voice 
E-MU Modular System

40 BGM (Alfa Records, 1981)
YMO plays  Roland TR-808 Prophet-5 Yamaha E-1010 delay EMT-140 and -240  reverbs Eventide Digital Delays Harmonizers Kepex 500 Program Expanders 3M and MCI analog tapes  Roland MC-8 MicroComposer Korg PS-3100 Polyphonic Korg VC-10 vocoder Yamaha Drums Pollard Syn-Drums Moog III-C Minimoog Polymoog ARP Odyssey Oberheim Eight-Voice 
E-MU Modular System

41 Technodelic (Alfa Records, 1981)
YMO plays Two-Way Radio Prepared Piano Roland TR-808 Prophet-5 Toshiba LMD-649 sampler Roland MC-8 MicroComposer Korg PS-3100 Polyphonic Korg VC-10 vocoder Yamaha Drums Pollard Syn-Drums Moog III-C Minimoog Polymoog ARP Odyssey Oberheim Eight-Voice E-MU Modular System

42 Naught Boys (Alfa Records, 1983)
Haruomi Hosono plays Electric Bass Synth Bass Keyboards Vocals Ryuichi Sakamoto plays Keyboards Vocals Yukihiro Takahashi plays Vocals Electronic drums Cymbals Keyboards
43 Service (Alfa Records, 1983)
Haruomi Hosono plays Electric Bass Synth Bass Keyboards Vocals Ryuichi Sakamoto plays Keyboards Vocals Yukihiro Takahashi plays Vocals Electronic drums Cymbals Keyboards Super Eccentric Theater Comic Vocals


44 Philharmony (Yen Records, 1982)
Haruomi Hosono production lyrics electronics


45 S·F·X (Teichiku Records, 1984)
Haruomi Hosono vocals lyrics synthesizer engineer

46 Logic (Express, 1981)
Hideki Matsutake & Logic System plays E-MU System Moog III-C Prophet 5 ARP Odyssey Oberheim 8 Voices Yamaha SS-30 Yamaha CS-10 Polymoog Yamaha CP-80 Hohner Clavinet D-6 EMS VCS-3 Pollard Syndrum Roland Jupiter-4 Roland Vocoder VP-330 Roland MicroComposer MC-8 Roland Rythm Composer TR-808 DR-55 Eventide H-949 Harmonizer Moog 10 Band EQ Yamaha Analog Delay E-1010 Roland Stereo Flanger (SBF-325) Roland Echo RE-555 Roland Stereo Phaser (PH-830) Mutron Bi-Phase Mutron Flanger MXR Stereo Chorus MXR Distortion MXR Noise Gate T.C Electronics Phase Roland Boss Flanger Roland Boss Chorus Maxon Stereo Box Original Interface (For Prophet 5)


 




CULTURA | LAZER | SHOWS | CONCERTOS | EXPOSIÇÕES | OFICINAS——————————————————————————————————————