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21 Orquestras, quartetos de cordas e Ensembles que você precisa ouvir para conhecer Música Erudita Contemporânea

Do final do século 19 -- que é quando se tem os primeiros indícios de modernidade -- até a primeira metade do século 20, tivemos o que conhecemos como período moderno da música erudita. Nesse período moderno, compositores como Claude Debussy, Erik Satie, Arnold Schönberg, Igor Stravinsky, Edgar Varèse, Olivier Messiaen, Pierre Schaeffer, e tantos outros, perfizeram um trajeto onde a música emergiu do seu consonante conforto tonal advindo dos períodos clássico e romântico para transcrever os futurismos, impressionismos, expressionismos, deformidades e as sinuosidades propostas pelas artes plásticas, bem como as rítmicas propostas pela dança moderna e pelo jazz, e bem como as novas ruidosidades impostas por um mundo agora envolto de eletrônica e novas tecnologias. Sendo assim, essa música erudita moderna, transformada por esses compositores, pelos compositores dodecafônicos da Segunda Escola de Viena (liderados por Schoenberg), e pelos novos serialistas e experimentalistas que viriam em seguida -- John Cage, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen, Luciano Berio, Morton Feldman e etc -- chega aos anos 50 e 60 num estágio de sonoridade tão dissonante, atonal, conceitual, experimental e perturbadora, que praticamente se esgotaria as possibilidades de se avançar mais nessa direção da experimentação conceitual e da atonalidade serial -- a não ser que se adentrasse ao território quântico da microtonalidade, que até já vinha sendo investigado por alguns poucos compositores, mas ainda hoje carece de instrumentos específicos, adesão cultural e todos os meios para se avançar. É nessa fase que surgem novas vanguardas que darão início ao que podemos chamar de ecletismo ou de música pós-moderna, que é nada mais do que uma segunda etapa de desenvolvimento do modernismo, etapa essa que se inicia na segunda metade do século 20 através das aplicações de compositores como Luciano Berio, Frank Zappa e Alfred Schnittke. Surgidos entre meados dos anos 60 e início dos anos 70 -- exceto Berio, que já vinha sendo um dos ases da vanguarda nos anos 50 --, esses compositores começariam a trabalhar com inúmeras colagens e misturas de estéticas e estilos, dando início à uma fase onde a ordem da vez era a mistura de tudo o que já se tinha inventado antes, incluindo misturas com enxertos de elementos de outros gêneros como o jazz, a eletrônica, o pop, o rock e etc.

FRANK ZAPPA
Em paralelo -- e como uma alternativa e protesto ao dilema da atonalidade formalista europeia -- também surgia nos EUA a música minimalista de compositores americanos como Moondog, La Monte Young, Terry Riley, Steve Reich e Philip Glass: compositores esses que, embalados pelas novas tonalidades e novas melodias do jazz, do pop e do rock, partiriam rumo à uma exacerbação dessas novas tonalidades consonantes através de experimentos com efeitos de loops em fita magnética e notas repetitivas, parafraseando a pop art e o novo mundo da reprodução em massa. Inicialmente, a música minimalista surge, então, como uma nova forma de arte de música marginal-experimental, e esses compositores ditos minimalistas só seriam levados a sério nos meios acadêmicos e nos circuitos dos grandes ensembles e orquestras nas décadas vindouras. Era chegado um momento na história da música americana em que -- ao contrário dos compositores de outrora, que eram comissionados por grandes orquestras e financiados pelos meios acadêmicos, pelos grandes conservatórios e universidades, ou até mesmo pelos governos (caso do IRCAM, na França) -- os novos compositores teriam de se promover de forma independente, muitas das vezes começando a expor suas peças em lofts e galerias alternativas, até que suas obras alcançassem aclamação de público e crítica e fossem incluídas nas programações dos grandes teatros e salas de concerto -- aliás, a indústria fonográfica e o conservadorismo institucional imporia uma verdadeira inércia em torno dos grandes clássicos, ao passo em que a nova música contemporânea naturalmente teria de se desenvolver a partir de ensembles independentes e cenários alternativos. Ademais, as décadas de 70 e 80 também trariam consigo outros novos estilos e conceitos estéticos entrantes na música erudita: o pós minimalismo de Julius Eastman e John Adams; a música espectral de Gérard Grisey e Tristan Murail; a nova complexidade das obras de Brian Ferneyhough; a nova simplicidade evidenciada pelo minimalismo religioso de Arvo Pärt e Henryk Górecki (que resgataram a poética dos madrigais e corais medievais); as arritmias e polirritmias advindas da nova música eletrônica; entre outras manifestações. Todas essas misturas e manifestações acontecendo ao mesmo tempo e em paralelo umas às outras possibilitariam um fenômeno de ecletismo generalizado nas décadas de 90 e 2000: com o pós minimalismo -- o minimalismo diluído de tendências neorromânticas, neoclássicas, com pitadas de pop, rock, jazz e eletrônica... -- sendo uma estética pulsante nos EUA; e com o formalismo serial europeu totalmente diluído em idiossincrasias ecletismos individuais dos novos compositores, quando não imbuído de tendências neorromânticas e neoclássicas. Em termos de Europa, um exemplo sempre referenciado para explicar o esgotamento da música serial-dodecafônica é o fato do compositor polonês Krzysztof Penderecki ter se voltado para o uso idiossincrático de elementos clássicos e românticos em suas peças, após suas perturbadoras obras atonais dos anos 60. Também na Europa, as últimas décadas testemunharam um novo apogeu musical dos países nórdicos, com um modernismo diluído em texturas, atmosferas e timbrísticas pós minimalistas, por vezes com o uso de uma eletrônica mais ambient.

CAROLINE SHAW
A música erudita dita "contemporânea" -- se é que possamos delimitar um marco mais ou menos temporal -- começa, então, nesse ecletismo e nesse mar de misturas, estéticas e estilos acontecendo ao mesmo tempo e em paralelo uns aos outros na passagem do século 20 para este início de século 21, além do fato de que vários dos compositores dessas últimas décadas adotariam posturas e estilos totalmente individuais e inclassificáveis ante às estéticas anteriormente estabelecidas. E dado o resumo discorrido acima, este post pretende ser um guia de introdução para o ouvinte-leitor que gosta dessa música auditivamente mais desafiadora, e quer conhecer as principais orquestras e os principais ensembles que exploram esse rico repertório do século 20 e deste início de século 21. E ainda que não seja uma lista completa -- uma vez que não teríamos espaço e nem tempo para relacionar a infinidade de grandes ensembles existentes no mundo --, esses 21 conjuntos de música erudita nos oferece álbuns e registros onde conseguimos apreciar um bom resumo dos principais estilos e estéticas modernas e contemporâneas: da música serial de Pierre Boulez à música aleatória de John Cage; da música minimalista de Philip Glass à música pós minimalista de Julia Wolfe; da nova complexidade de Brian Ferneyhough (vide uma de suas partituras acima) à nova simplicidade de Arvo Pärt; da música atonal de Krzysztof Penderecki à nova consonância neoclássica de John Adams (que parte do minimalismo nos anos 70 para depois adentrar ao neoclássico nos anos 90); do ecletismo de Frank Zappa ao pósminimalismo nórdico de Valgeir Sigurðsson; do poliestilismo de Alfred Schnittke à música espectral de Gérard Grisey; da música eletroacústica de Karlheinz Stockhausen às transcrições das criações de DJs e manipuladores eletrônicos como Aphex Twin e Squarepusher... Essas orquestras e esses ensembles também nos apresentarão, enfim, obras dos principais compositores a surgir nas décadas de 90, 2000 e 2010: John Zorn, Tomas Adès, Magnus Lindberg, William Britelle, Nico Muhly, Valgeir Sigurðsson, Donnacha Dennehy, Caroline Shaw (foto acima), Missy Mazzoli, Du Yun, Jennifer Higdon, Matthias Pintscher, dentre tantos outros. Importante ressaltar que muitos desses compositores deste início de século 21 -- alguns deles ainda jovens, na casa dos 30 e 40 anos --, além da faceta de serem ecléticos e não se apegarem em uma escola histórica específica, também adotam uma postura um tanto independente em suas produções: nos EUA, inclusive, fala-se muito de um cenário de compositores e ensembles que, inspirados pelos minimalistas e experimentalistas das décadas de 70 e 80, deram vida à uma espécie de "indie classical music", com muitas influências advindas do pop, rock alternativo, jazz, hip hop e eletrônica, muitas vezes diluindo essas influencias interdisciplinares da atual era contemporânea com elementos medievais, barrocos, clássicos e românticos, criando amálgamas idescritivelmente híbridas. Clique nas imagens para ouvir e saber mais. Ouça a playlist no final do post.



Alarm Will Sound é um ensemble de 20 membros especializada em música erudita contemporânea. Surgido em 2005 através de um grupo de talentosos músicos estudantes e residentes no Dickinson College (Pensilvânia, EUA), o Alarm Will Sound se notabilizou em seu início pelas interpretações inquestionáveis de algumas das peças do compositor minimalista Steve Reich na época. No entanto, a maior ousadia do ensemble foi registrada no álbum Acoustica, onde seus membros fizeram arranjos com instrumentação acústica sobre a música eletrônica inovadora do artista pop Aphex Twin (aka Richard D. James), resultando num dos registros mais intrincados e modernos da música contemporânea. De lá para cá, o reconhecimento midiático cresceu tanto quanto o repertório: além dos arranjos e composições dos próprios membros, o repertório oficial do ensemble é composto de peças de compositores tais como Steve Reich, John Adams, Tyondai Braxton, David Lang, Anthony Gatto, Cenk Ergün, Aaron Jay Kernis, Michael Gordon, Augusta Read Thomas, Stefan Freund, John Orfe, Caleb Burhans, Dennis Desantis e Wolfgang Rihm. Além de Acoustica, outro registro que foi muito elogiado pela crítica americana foi o A/Rhythmia (Nonesuch), onde as peças escolhidas -- que vão de Ligeti à Michael Gordon -- evidenciam o processo especial da busca dos ritmos pulsantes e da arritmia na música moderna e contemporânea. Com uma ênfase muito bem elaborada em obras inéditas de compositores contemporâneos e com apresentações e registros cada vez mais aclamados e intrincados, o Alarm Will Sound pode ser facilmente considerado num dos cinco maiores ensembles americanos em termos de música nova. 


O grupo nova-iorquino Sō Percussion é um quarteto de percussão erudita formado por quatro ex-estudantes ligados à Escola de Música de Yale: Josh Quillen, Adam Sliwinski, Jason Treuting e Eric Cha-Beach. Mas a concepção de percussão do conjunto vai muito além dos limites percussivos convencionais enquadrados na música erudita e engloba aspectos que vão do jazz contemporâneo à música eletrônica experimental. Posteriormente, após grande prestígio adquirido, seus membros seriam ligados, também, à Universidade de Princenton onde foram nomeados artistas residentes e foram comissionados para registrar obras de compositores-professores da referida universidade tais como Steve Mackey, Paul Lansky e Dan Trueman: um exemplo é o registro "...neither Anvil nor Pulley" (Cantaloupe, 2013), onde o quarteto une todo seu aparato percussivo às possibilidades eletrônicas da Princeton Laptop Orchestra na execução de obras do compositor Dan Trueman. Além de composições e projetos próprios, o So Percussion já registrou obras de Steve Reich, David Lang, Martin Bresnick, Grey Mcmurray, John Cage, Bobby Previte, George Crumb, Iannis Xenakis, além de parcerias com o compositor de jazz contemporâneo Dave Douglas e com o duo de música eletrônica experimental Matmos, entre outras. Um dos seus recentes álbuns, "Music for Wood and Strings", é uma parceria com Bryce Dessner, que além de ser considerado um criativo compositor erudito, é guitarrista da banda de rock alternativo The National. Mais recentemente, o Sō Percussion também lançou álbuns com obras de Caroline Shaw, Steve Reich, Glen Kotche e Steve Mackey. Um ensemble de percussão que surge para dar vazão às sonoridades inovadoras deste início de século 21.

 
Localizado em Colônia, Alemanha, o musikFabrik é, desde os anos 90, um dos mais ativos ensembles de música erudita moderna e contemporânea da Europa. A lista de parcerias e de grandes compositores que já tiveram suas obras interpretadas pelo musikFabrik é extensa, incluindo tanto obras de compositores promissores quanto de veteranos e ícones do modernismo: Unsuk Chin, Enno Poppe, Louis Andriessen, Richard Ayres, Sir Harrison Birtwistle, Péter Eötvös, Vinko Globokar, Georg Friedrich Haas, Mauricio Kagel, Helmut Lachenmann, Henri Pousseur, Wolfgang Rihm, Peter Rundel, Karlheinz Stockhausen, James Wood, Hans Zender, só para citar alguns. Para tanto, o ensemble tem uma edição própria de registros pela gravadora Wergo, onde registra a maioria das suas novas comissões e do seu repertório oficial. Influenciado por ensembles de entre 15 a 20 componentes baseados na música moderna do século XX tais como Asko Ensemble (formado em 1965 na Holanda), a London Sinfonietta (1968, Londres), o Schoenberg Ensemble (Den Haag, 1974), o Ensemble InterContemporain (Paris, 1976) e o Ensemble Modern (Frankfurt, 1980), o musikFabrik tem o intuito de registrar o máximo de composição erudita inovadora do século 21 que puder, mas sempre intercalando novos e proeminentes compositores com os modernistas do século passado, sobretudo europeus. Destaque para o CD de número oitavo da Wergo onde o musikFabrik inclui duas peças para saxofone e ensemble escritas por Sun Ra, o pianista e compositor de jazz que se inspirava na mística do planeta Saturno e nas temáticas cósmicas e siderais.

 
Inicialmente, o Bang On A Can foi formado em São Francisco em 1987 por três grandes músicos e compositores pósminimalistas do cenário vanguardista da Downtown nova iorquina: Julia Wolfe (ganhadora do Prêmio Pulitzer de 2015), David Lang, e Michael Gordon. Em 1992, o Bang on a Can evoluiu para um sexteto que se chamaria  Bang On A Can All-Stars em 1992, definindo-se, enfim, numa incomum formação com clarinete, cello, guitarra elétrica, piano (ou teclados), percussão e contrabaixo. Atualmente, é um dos ensembles americanos de maior reconhecido mundial no âmbito da música contemporânea por suas performances ao vivo ultradinâmicas e por diversas premières e gravações de obras quase sempre inéditas. Sem se prender apenas na seara erudita, o sexteto ultrapassa as fronteiras entre clássico, jazz, rock, world music e música experimental, impondo uma identidade que desafia as categorizações midiáticas. Juntos, os seis membros do Bang On A Can All-Stars já trabalharam em parcerias, encomendas e colaborações com músicos e compositores tais como Louis Andriessen, Bill Frisell, Ryuichi Sakamoto, Tyondai Braxton , Mira Calix, Anna Clyne, Dan Deacon, Bryce Dessner, Ben Frost Florent Ghys, Michael Gordon, Jóhann Jóhannsson, David Lang, Alvin Lucier, Christian Marclay, Richard Reed Parry (da banda de rock Arcade Fire), Steve Reich, Julia Wolfe, Ornette Coleman, Kyaw KW Naing (percussionista birmanês), Tan Dun, DJ Spooky, dentre muitos outros. Alguns projetos encomendados que tiveram sucesso incluem gravações de composições de Brian Eno, Terry Riley, Philip Glass, Meredith Monk, Don Byron, Iva Bittova, Thurston Moore, Owen Pallett dentre outros. Em 2005 o Bang On A Can All-Stars foi premiado na categoria Ensemble do Ano e foi citado como um dos mais importantes conjuntos de música contemporânea dos EUA nos tabloides de San Francisco.
 
 
Nascido na passagem da década de 2000 para a década de 2010, o sexteto nova-iorquino yMusic é um "conjunto de câmera" constituído de talentosos jovens músicos que combinam a complexidade da música erudita com o frescor e a elasticidade do rock alternativo e da pop music. O conjunto é composto por seis virtuoses (alguns deles formados na Juilliard School of Music) que, além de tocarem em grandes orquestras e outros conjuntos de câmara, também são colaboradores requisitados por artistas e bandas do rock e do avant-pop tais como Arcade Fire, Spoon, Vampire Weekend, Bon Iver, The National, Björk, David Byrne, Grizzly Bear, Antony and the Johnsons e Sufjan Stevens. E no final de 2011 eles lançaram um álbum muito interessante que apresenta esse amálgama compositivo de música erudita e linhas de pop e rock: trata-se do álbum Beautiful Mechanical, considerado um dos álbuns mais interessantes do ano pela crítica norte-americana. Trata-se de um álbum que reúne temas arranjados e peças de um conjunto de igualmente novos e jovens compositores tais como Ryan Lott (Son Lux), Greenstein Judd, Annie Clark (do grupo St. Vincent), Gabriel Kahane, Sarah Snider e Shara Worden (da banda My Brightest Diamond). A ideia do yMusic é fazer música contemporânea de uma forma mais jovem, agradável e divertida, mas sem perder o requinte artístico e a complexidade conceitual: para tanto, além de apelarem para a música minimalista mais recente, com obras de contrapontos e pulsações rítmicas bem inusitadas, eles também procuram interpretar obras de compositores que usam muitas harmonias e linhas melódicas advindas da pop music. Um dos seus mais recentes títulos, o álbum Balance Problems, inclui obras de jovens compositores tais como Nico Muhly, Sufjan Stevens, Andrew Norman, Mark Dancigers, Jeremy Turner, Marcos Balter e Timo Andres.

 
Formado em 1965 e com sede em Amesterdã, Holanda, o Asko/Schoenberg Ensemble é um daqueles importantes conjuntos de música nova que foca-se muito ainda na música moderna do século XX, mas sem deixar de estrear novas obras contemporâneas, bem como de se conectar com outros programas contemporâneos de cinema, projetos de dança e multimídia e ópera moderna. O conjunto inicialmente não tinha um regente regular, chegando a trabalhar com importantes maestros convidados tais como Riccardo Chailly, Oliver Knussen, Reinbert de Leeuw, George Benjamin, Stefan Asbury e Peter Rundel. De lá para cá o Asko Ensemble lançou mais ou menos cem gravações com obras de Louis Andriessen, Roberto Carnevale, Elliott Carter, György Ligeti, de Bruno Maderna, Olivier Messiaen, Edgar Varèse, Claude Vivier, Iannis Xenakis, e muitos outros. Empreendeu premières mundiais de obras dos maiores compositores das últimas décadas, vide as estréias de peças tais como "Terrain" de Brian Ferneyhough (Amsterdam, Abril de 1992), "Mittwoch aus Licht" de Karlheinz Stockhausen (Amsterdam, em 14 de junho de 1996), Asko Concerto de Elliott Carter (Amsterdã, 26 de Abril de 2000), Hamburg Concerto de Ligeti (Hamburgo, 20 de Janeiro de 2001), da opera After Life de Michel van der Aa (Amsterdã, 6 de janeiro de 2006), Music for 5 de Ermis Theodoraki (Amsterdã, 17 de Abril de 2006), In Praise of Darkness de Mary Finsterer (Amsterdã, 23 de Abil de 2009) e The Comedy of Change de Julian Anderson (Londres, 8 de Setembro de 2009). Em 2008, o Asko Ensemble anunciou sua fusão com o importantíssimo Schoenberg Ensemble afim de englobar obras que exigem uma maior formação orquestral. Porém, dependendo da formação -- uma vez que a música contemporânea é caracterizada pelas constantes mudanças de formações e combinações instrumentais, muitas vezes reduzidos --, os dois conjuntos se separam para empreenderem-se em projetos distintos. Recentemente o Asko Ensemble esteve contracenando com a emblemática orquestra de improvisação livre Instant Composers Pool: vide o álbum ICP Orchestra & Asko Ensemble: Live At Angelica Festival (ICP 044a, 2007).


Talvez o Ensemble Intercontemporain seja a mais renomada orquestra de câmera baseada em música erudita contemporânea do mundo. Com residência no importantíssimo centro de pesquisas do IRCAM, Paris, a orquestra foi fundada pelo célebre maestro e compositor Pierre Boulez em 1976, com grande apoio político e financeiro do presidente Georges Pompidou e do Ministério da Cultura da França da época, transformando-se em pouco tempo numa verdadeira força motriz propagadora da música moderna do século 20, e manteve-se um palco de importância inconteste para os jovens músicos do século 21. Com uma formação instrumental de 31 solistas, o Ensemble Intercontemporain também foi pioneiro na intersecção da música contemporânea acústica com a eletroacústica, uma vez que o IRCAM se notabiliza, também, por abrigar um dos mais importantes estúdios de música eletroacústica e novas tecnologias multimídias da Europa. Inicialmente, o Ensemble Intercontemporain empreendia programas mais baseados na divulgação da música de compositores modernistas do século XX, de Schoenberg a Stravinsky, de Debussy à Brian Ferneyhoug, de Messiaen à Stockhausen, passando pelas obras inovadoras de Luciano Berio e do próprio Boulez. Posteriormente, foi-se instituído que a cada ano haveria uma programação especializada em novos compositores residentes da França e de outros países, onde novas obras seriam estreadas pelo ensemble. Nos últimos anos alguns dos compositores comissionados foram Matthias Pintscher, Philippe Leroux, Ondrej Adamek, Enno Poppe, Marco Stroppa, Johannes Maria Staud, Michael Jarrell, François Sarhan, dentre outros. É um dos poucos ensembles de música erudita contemporânea que tem contrato com a importantíssima Deutsche Grammophon, considerada a mais antiga gravadora do mundo e o principal selo fonográfica de música clássica desde sempre.

 
Residente de São Francisco, EUA, o Kronos Quartet talvez seja o quarteto de cordas mais célebre e eclético que se tem notícia por suas muitas conexões em muitos outros estilos musicais e em outras áreas das artes. Fundado em 1973 pelo violinista David Harrington, o quarteto é composto ainda de John Sherba (violino), Hank Dutt (viola) e Sunny Wang (cello). Alguns dos principais compositores já gravados por este célebre quarteto de cordas são John Adams, Arvo Pärt, George Crumb, Henryk Górecki, Steve Reich, Philip Glass, Terry Riley, Kevin Volans, John Zorn, dentre muitos outros. O Kronos também empreende projetos nos quais interpreta obras de compositores de diferentes países tais como Kaija Saariaho da Finlândia, Pēteris Vasks da Letônia, Franghiz Ali-Zadeh do Azerbaijão, Homayun Sakhi do Afeganistão, Victoria Vita Polevá da Ucrânia e Fernando Otero, Astor Piazzolla e Osvaldo Golijov da Argentina. Sua ecleticidade musical abrange da folk music à música experimental, da música renascentista à música do século 20, das trilhas sonoras para cinema (vide os filmes 21 Grams, Requiem for a Dream, Heat e The Fountain) ao jazz e ao tango, do rock à world music. Famosas também são seus arranjos e adaptações das músicas de Jimi Hendrix, Bob Dylan e dos pianistas de jazz Bill Evans e Thelonious Monk, dentre outras. Desde 1985, o quarteto vem lançando a maioria das suas gravações pelo selo Nonesuch Records e consta com mais de 50 álbuns de estúdio.


Nenhum outro quarteto cordas é tão representativo para a música erudita moderna e contemporânea quanto o Arditti Quartet -- nem mesmo o Kronos Quartet, mais famoso por sua ecleticidade que abrange até estréias de peças de compositores não eruditos e encomendas para o cinema. Residente em Londres, o quarteto Arditti foi fundado em 1974 pelo violinista inglês Irvine Arditti, juntamente com John Senter, Andrade Levine e Mackenzie Lenox. Desde então, uma grande quantidade de peças para quartetos de cordas e outras obras de câmara foram escritas especificamente -- e especialmente -- para o conjunto. Além dos mais de 180 Cds lançados, o grupo já realizou centenas de estreias mundiais de peças dos mais importantes compositores modernos e contemporâneos: Thomas Adès, Louis Andriessen, Georges Aperghis, Harrison Birtwistle, Benjamin Britten, John Cage, Elliott Carter, Edison Denisov, James Dillon, Hugues Dufourt, Pascal Dusapin, Ivan Fedele, Morton Feldman, Brian Ferneyhough, Luca Francesconi, Francisco Guerrero, Sofia Gubaidulina, Jonathan Harvey, Toshio Hosokawa, Klaus Huber, Mauricio Kagel, György Kurtág, Helmut Lachenmann, György Ligeti, Bruno Maderna, Conlon Nancarrow, Roger Reynolds, Wolfgang Rihm, Giacinto Scelsi, Salvatore Sciarrino, Karlheinz Stockhausen, Iannis Xenakis, dentre outros. Especializados nas vanguardas mais formalistas das música erudita do século XX e XXI -- da música dodecafônica à interação com a eletroacústica, das escolas Nova Complexidade e Nova Simplicidade até a Música Espectral e a Nova Consonância--, o conjunto acredita que a colaboração conjunta e direta com compositores é vital para o processo de evolução e interpretação da música nova e, portanto, tenta trabalhar de acordo a idiossincrasia de cada compositor cuja música eles interpretam.

 
Residente em Frankfurt, Alemanha, o Ensemble Modern foi fundado em 1980 por membros da Junge Deutsche Philharmonie, e é formado por mais ou menos 20 talentosos instrumentistas de diferentes países. Posteriormente, o Ensemble Modern teria sua residência fixada na importante Ópera de Frankfurt, tornando-se uma das cinco mais importantes orquestras de câmera baseada em música contemporânea da Europa. Nos mesmos moldes de ensembles como o holandês Asko Ensemble e o também alemão musikFabrik, o Ensemble Modern é, porém, muito mais aberto à música contemporânea dos EUA e doutros continentes do que esses e outros ensembles da Zona do Euro, tendo empreendido álbuns inteiros com obras de compositores americanos tais como Frank Zappa, John Adams, John Cage, Charles Ives e Morton Feldman. Outros álbuns incluem obras de compositores europeus e de outros países tais como George Benjamin, Hans Zender, Peter Eötvös, Heiner Goebbels, Hans Werner Henze, Mauricio Kagel, Helmut Lachenmann, György Kurtág, György Ligeti, Benedict Mason, Karlheinz Stockhausen e Johannes Quint. Destaque para a gravação das obras de Frank Zappa, Ryuichi Sakamoto e Wolfgang Rihm! Um dos ensembles mais prolíficos do mundo!


A London Sinfonietta foi fundada pelos músicos David Atherton e Nicholas Snowman em 1968. Com residência no Southbank Centre no edifício Kings Place, Londres, é considerada uma das cinco melhores orquestras de câmeras especializadas em música erudita contemporânea da Europa. Desde 1968 lista-se mais de 400 comissões empreendidas, incluindo peças comissionadas de compositores tais como Sir Harrison Birtwistle, Iannis Xenakis, Luciano Berio, Magnus Lindberg, Thomas Adès, George Benjamin, Steve Reich, Tansy Davies, Dai Fujikura, Jonny Greenwood, Django Bates, Roberto Carnevale, Kenneth Hesketh e Mark-Anthony Turnage. Dentre seus registros de sucesso incluem-se as gravações do ciclo de canções Voices do compositor alemão Hans Werner Henze pela EMI (1988), da Terceira Sinfonia de Gorecki pela Nonesuch Records (1991) e suas gravações das peças de Stockhausen pelo selo Deutsche Grammophon. Mais recentemente a London Sinfonietta criou seu próprio selo onde, em conjunto com outras gravadoras tais como NMC Records e Warp Records, vem lançando obras de jovens compositores tais como Richard Causton, Dai Fujikura, Ian Vine, Larry Goves e Jonny Greenwood (da banda Radiohead). Destaque também para sua gravação da peça Arc and Green do compositor japonês Toru Takemitsu. Ademais, fica a indicação do álbum acima, onde a London Sinfonietta faz transcrições inteligentíssimas de peças inventadas pelos DJs e manipuladores eletrônicos Aphex Twin e Squarepusher -- descobertos pela gravadora Warp Records, especializada na estética IDM da música eletrônica --, fazendo um mix dessas transcrições do século 21 com outras intrincadas peças de compositores do século 20 (Reich, Cage, Ligeti, Nancarrow, e etc), todas num mesmo set list.


O International Contemporary Ensemble foi criado em 2001 pela flautista americana Claire Chase e um conjunto de ex-alunos do Conservatório Oberlin em Ohio, uma das maiores faculdades de música dos EUA, e desde então se tornou um dos principais ensembles de música contemporânea do mundo. Lançando seus álbuns nos principais selos de música contemporânea da atualidade - Nonesuch, Naxos, Tzadik, New Amsterdam, entre outros -- o International Contemporary Ensemble consiste em manter estritamente um repertório contemporâneo com bastante abertura para jovens compositores, incluindo mantendo programas de comissões chamados 21st Century Young Composers Project e o ICElab, os quais são excelentes programas de residência para jovens compositores emergentes, tanto dos EUA quanto de outros países -- uma verdadeira vitrine de música nova. Dois jovens compositores já abordados aqui que foram comissionados pelo ICE são: o compositor brasileiro Caio Facó e a compositora chinesa Du Yun, que em 2017 ganhou o Pulitzer Prize for Music por sua ópera Angel's Bone. O ensemble tem um total de 34 músicos que se revezam de acordo a extensão e exigência das peças. Compositores renomados frequentemente abordados nas programações do ICE incluem John Zorn, Alvin Lucier, Pauline Oliveros, David Lang, Liza Lim, Dai Fujikura, Julio Estrada, Amir Shpilman, George E. Lewis e Anna Thorvaldsdottir. Álbuns interessantes incluem: On the Torment of Saints, the Casting of Spells and the Evocation of Spirits (Tzadik, 2013) com peças de John Zorn inspiradas em figuras das artes e da literatura (Shakespeare, Michelangelo, Dali, Goya e etc) gravadas no Museum of Contemporary Art, em Chicago; Son Of Chamber Symphony / String Quartet (Nonesuch, 2011), dividindo as atenções com o St. Lawrence String Quartet em peças de John Adams; AEQUA ( com peças da compositora islandesa Anna Thorvaldsdottir (Sono Luminus, 2018); e Dinossaur Scar (Tundra, 2018) com peças da compositora chinesa Du Yun. Ensemble focado nos mais criativos compositores do século 21.

 
A London Symphony Orchestra é, de fato, uma orquestra versátil e diferenciada. Com excessão de algumas orquestras americanas -- que a partir de fins da década de 70 passou a incorporar peças dos compositores minimalistas em seus repertórios e continua dando vitrine para compositores contemporâneos modernistas e neoclássicos -- a maioria das tradicionais orquestras sinfônicas e filarmônicas do mundo apenas sustentam uma programação conservadora de peças e compositores dos períodos barroco, clássico, romântico, com um percentual modesto de inclusão dos compositores pré-modernos, neoclássicos e modernos da primeira metade do século XX (Sibélius, Fauré, Debussy, Mahler, Prokofiev, Stravinsky, Shostakovitch, Villa-Lobos, Bartok, Elgar, Grieg, Copland, Ives, Vaughan Williams e etc). Mas esse é um padrão que não se aplica -- ao menos não totalmente -- à London Symphony Orchestra, que foca nos clássicos, sim, mas é totalmente aberta para o repertório contemporâneo, além de manter diálogos e bom trânsito em outros gêneros e esferas fora do antiquário sinfônico. Além de ostentar uma história de grandeza colossal no universo erudito propriamente, a Orquestra Sinfônica de Londres é a mais engajada das orquestras tradicionais -- no mundo! -- em manter um diálogo da cultura sinfônica com a cultura pop, com o jazz e com rock, sem mencionar as centenas trilhas sonoras que ela já gravou. Essa versatilidade se deu ao fato de que ela é a primeira orquestra da história da Inglaterra, e uma das primeiras do universo erudito, a ter uma gestão independente -- isso já a partir de 1904, ano da sua fundação. Formada a partir de músicos dissidentes que deixaram a Queen's Hall Orchestra por causa de uma nova regra contratual que exigia que os músicos prestassem serviços exclusivos sem poder tocar com outros conjuntos e em outros locais, a London Symphony Orchestra foi formada num regime contratual totalmente colaborativo e inovador onde todos os músicos compartilhavam os lucros no final de cada temporada -- isso no início do século 20. Por um lado, isso proporcionou liberdade artística e impulsionou as gravações já a partir da era do gramofone -- com suas primeiras gravações, aliás, datadas em 1912 --, o que fez com que a LSO se tornasse a orquestra com maior número de gravações do mundo e de todos os tempos -- só em termos de trilhas sonoras, diga-se de passagem, são mais de duas centenas de gravações. Por outro lado, houve momentos de crise financeira no pós Guerra onde a LSO não conseguiu manter seus músicos e sua qualidade, o que ocasionou uma verdadeira debandada dos seus músicos para outras orquestras da Inglaterra. Contudo, entre meados das décadas dos 60 e 70 -- sobretudo na direção artística de André Previn, excelente pianista de jazz e grande maestro --, a London Symphony Orchestra retoma o seu posto entre as grandes orquestras do mundo e vem mantendo esse status desde então -- e sempre com suas intersecções ecléticas. Existem inúmeras gravações que a London Symphony Orchestra dedicou ao repertório contemporâneo -- leia-se: do repertório da segunda metade do século 20 e início do século 21 --, incluindo gravações com músicos, bandas e compositores de jazz e doutros gêneros criativos. Entre essas gravações podemos listar álbuns com peças de Ornette Coleman (Skyes of America, 1971), Frank Zappa (1983/ 1987), Paul McCartney (Standing Stone, 1997), Penderecki (Violin Concerto No.2/ Metamorphosen, 1997), James MacMillan (2008) Kenneth Fuchs (2014/ 2019), Pharoah Sanders (Floating Points, 2019) e Toumani Diabaté (Kôrôlén, 2021).


Fundado em 1962, o Les Percussions de Strasbourg é um mundialmente renomado conjunto de percussão francês baseado estritamente na música erudita moderna e contemporânea. Composto por seis percussionistas, a formação atual conta com músicos que tocam juntos há mais de 15 anos. A formação anterior, então, já vinha durando mais de quatro décadas. Tudo começou em 1959, quando Pierre Boulez foi convidado a conduzir sua obra Le Visage Nuptial em Estrasburgo: uma peça escrita para soprano, contralto, coro feminino e nove percussionistas. Para interpretar essa sua obra, Pierre Boulez teve que contar com a soma de percussionistas da Orquestra de Estrasburgo e da Orquestra Nacional da França, uma vez que não havia naquela época um ensemble que dispusesse de nove percussionistas de uma só vez. Desses nove, seis jovens músicos –– Bernard Balet, Jean Batigne, Lucien Droeller, Jean-Paul Finkbeiner, Claude Ricou e Georges Van Gucht –– decidiram criar um inédito conjunto totalmente dedicado ao novo repertório de percussão erudita, chamando esse grupo inicialmente de Groupe Instrumental à Percussion. É preciso lembrar, aliás, que o foco em repertórios para percussão era algo totalmente novo na música erudita, começando por obras dos anos 30 e 40 de Edgar Varèse, John Cage e alguns poucos compositores tais como José Ardévol, John Becker, William Russell, Henry Cowell e Iannis Xenákis. Então o Groupe Instrumental à Percussion, não tendo ainda uma concepção e não tendo um repertório amplo para compor sua programação, teria de fomentar esse repertório, ampliar sua coleção de instrumentos e formar todo o conceito de um novo ensemble especializado em obras para percussão, posteriormente mudando seu nome para Les Percussions de Strasbourg. Muito rapidamente, contudo, o conjunto passa a comissionar projetos, encomendar peças e a inspirar a criação de um novo repertório através de compositores como Messiaen, Stockhausen, Serocki, Kabelac, Ohana, Xenakis, Mâche, Dufourt, Nigg, entre tantos outros, e se torna um dos principais ensembles de percussão do mundo especializado em música erudita moderna e contemporânea. Focado inicialmente em obras e compositores da seara mais formalista da vanguarda europeia compreendida entre os anos 40 e os anos 70, posteriormente o Les Percussions de Strasbourg ampliaria sobremaneira seu repertório, abordando, também, compositores de outros continentes e obras dos compositores mais importantes das últimas décadas tais como Takemitsu, Pampin, Jodlowski, Hosokawa, Kishino, Taïra, Theodorakis, Sarde, Malec, dentre outros. Ademais, importante ressaltar, também, as interseções que o Les Percussions de Strasbourg faz com a percussão acústica e a eletroacústica, uma poética iniciada por compositores como Xenákis e Stockhausen, dentre outros.


NOW Ensemble é um grupo dinâmico de intérpretes e compositores dedicados a fazer uma nova música de câmara para o século 21. Com uma instrumentação única de flauta (Alex Sopp), clarinete (Alicia Lee), guitarra elétrica (Mark Dancigers), contrabaixo (Logan Coale) e piano (Michael Mizrahi), o conjunto traz um novo som e uma nova perspectiva à tradição erudita, infundida com elementos que refletem as diversas influências que permeiam o espectro criativo de seus membros: o rock, o jazz contemporâneo, o pop, o minimalismo, e etc. O ensemble tem na figura do guitarrista Mark Dancigers, o principal núcleo de composições próprias, além das composições dos outros membros do grupo e da parceria fixa com os compositores Patrick Burke e Judd Greenstein. Sendo um dos principais representantes da geração "indie classical music" e da atual postura pós-minimalista que engloba ecletismos vários, o NOW Ensemble também aborda peças de novos compositores tais como Sean Friar, Missy Mazzoli, Yevgeniy Sharlat, Emily Pinkerton, Scott Smallwood, Nathan Williamson, Nico Muhly, entre outros. A postura do NOW Ensemble meio que atualiza as abordagens da new music americana -- como, por exemplo, o ensemble Bang On A Can --, ao promover compositores que criam uma congruência entre as formas e sonoridades eruditas e as formas e sonoridades mais alternativas do jazz, do rock e do pop.

 
Outro dos grandes ensembles americanos é o American Contemporary Music Ensemble (ACME), liderado pela violoncelista e diretora artística Clarice Jensen. O ensemble dedica-se em manter um repertório de obras-primas dos séculos 20 e 21, composto principalmente de obras de compositores americanos, mas também aberto a novos compositores de outros países residentes nos EUA. Um dos grupos que também funciona como uma grande vitrine para obras dos compositores mais aclamados dos EUA atualmente -- incluindo compositores mais independentes, da chamada "indie classical music" --, as estreias mundiais realizadas pela ACME incluem Psalmbook de Ingram Marshall, Drone Mass de Jóhann Jóhannsson (encomendado pela ACME em 2015; gravado para a Deutsche Grammophon em 2019), Ritornello de Caroline Shaw, Out Cold de Phil Kline, Loving the Chambered Nautilus de William Brittelle, Senior and Thrive on Routine de Timos Andres, Jahrzeit de Caleb Burhans, dentre muitos outros. Em 2016 a ACME estreou, no The Kitchen, a transcrição que Clarice Jensen fez da peça The Holy Presence of Joan d'Arc, uma das partituras perdidas e recém descobertas do célebre compositor minimalista Julius Eastman, peça escrita originalmente para dez violoncelos. O American Contemporary Music Ensemble (ACME) é outro dos ensembles, pois, que apoia esses compositores pós-minimalistas mais independentes deste início do século 21 -- por vezes rotulados com a alcunha de "indie classical composers". Imprescindível!


A American Composers Orchestra é uma das principais orquestras sinfônicas americanas totalmente especializada em música moderna e contemporânea. Só que a ACO é uma orquestra dedicada exclusivamente à criação, execução, preservação e divulgação de um repertório produzido por compositores americanos -- sendo uma das únicas orquestras do mundo a ter essa função de preservar apenas um único repertório. Ao todo, a ACO mantém em seu acervo um repertório de mais de 500 compositores americanos, incluindo mais de 100 premières mundiais, sem contabilizar as novas encomendas. A ACO é dirigida pelo compositor Derek Bermel, que foi compositor residente de 2006 a 2009, precedido pelo compositor Robert Beaser. Sendo uma orquestra de reputado pioneirismo -- fundada em 1975 pelos maestros e compositores Francis Thorne, Dennis Russell Davies, Paul Lustig Dunkel e Nicolas Roussaki --, a American Composers Orchestra centra-se naqueles compositores americanos que deram suas tratativas pessoais para as possibilidades do modernismo na primeira e segunda metade do século 20: Colin McPhee, John Cage, Milton Babbitt, Elliott Carter, John Harbison, George Crumb, Charles Wuorinen, Lou Harrison, dentre outros. Mas também foca em compositores minimalistas, neoclássicos e compositores mais jovens ainda adeptos aos ecos do modernismo nesta recente passagem do século 20 para o século 21: Philip Glass, Robert Beaser, Derek Bermel, Keith Jarrett (sim, o pianista de jazz também já compôs sob as formas eruditas), dentre tantos outros. Uma orquestra de grande versatilidade, dado que ela aborda de Elliott Carter à Philip Glass: vide o álbum indicado acima, que traz as gravações da sinfonia que Glass escreveu baseando-se no álbum "Heroes" da Trilogia de Berlim, também conhecido como Trilogia Eletrônica, a qual compreende-se nos álbuns Low, "Heroes" e Lodger, lançados por David Bowie em parceria com Brian Eno, entre 1977 e 1979.

 
A Finnish Radio Symphony Orchestra é outra das colossais orquestras sinfônicas a não economizar espaços para a exposição de peças de grandes compositores contemporâneos. A orquestra tem se colocado como palco principal das peças dos compositores finlandeses, nórdicos e compositores do Norte da Europa tais como Sebastian Fagerlund, Aulis Sallinen, Lotta Wennäkoski, Joonas Kokkonen, Erkki Melartin, Erkki-Sven Tüür, Magnus Lindberg, Einojuhani Rautavaara, Esa-Pekka Salonen, Kaija Saariaho, Seppo Pohjola, Pehr Henrik Nordgren, dentre muitos outros. Vale lembrar também que as gravações da Orquestra Sinfônica da Rádio Finlandesa também prezam por traçar um perfil dos compositores pré-modernos e modernos que perfizeram a identidade nacionalista da Finlândia e dos países do Norte na passagem do século 19 para o século 20: Leevi Madetoja, Jean Sibélius, Carl Nielsen, dentre outros. A FRSO foi fundada pelo pianista Erkki Linko como uma orquestra compacta para dar vazão nas trilhas da Rádio Finlandesa em 1927, permanecendo boa parte das décadas de 30 e 40 como uma orquestra de pequeno porte formada por algo em torno de 15 a 20 músicos freelancers. Após o final da Segunda Guerra, a nova diretora-geral Hella Wuolijoki expande para 50 músicos e institui uma série de "Concertos de Terça-feira" na Prefeitura de Helsinque, o que ajudou a popularizar ainda mais a orquestra. O número de músicos membros cresceu para 67 músicos em 1953 e daí em diante a FRSO só cresceu e foi se estabelecendo como uma das principais orquestras do Norte da Europa.


Fundado em 1997 pelo compositor Donnacha Dennehy, o Crash Ensemble é o principal grupo de new music da Irlanda, e atualmente vem ganhando grande reconhecimento em outros países do mundo. O Crash Ensemble é interessante porque ele foca num repertório pósminimalista que compreende peças dos compositores do Norte da Europa -- Donnacha Dennehy, Valgeir Sigurðsson e compositores ligados ao coletivo islandês Bedroom Community -- e peças dos compositores americanos -- Julia Wolfe, David Lang, Michael Gordon, Glen Branca, Nico Mhuly, Bryce Dessner (da banda The National), Richard Reed Parry (da banda Arcade Fire), dentre outros. Alguns dos compositores mais emblemáticos já compuseram obras exclusivamente para o Crash Ensemble, incluindo Terry Riley, Louis Andriessen, Arnold Dreyblatt, Kevin Volans, Gerald Barry, entre outros. Em 2016 o Crash Ensemble registrou, por exemplo, uma interessante obra de intersecção do pósminimalismo do compositor irlandês Gerald Barry com o romantismo de Beethoven, a qual o compositor registrou no álbum Barry meets Beethoven (Orchild Classics), indicado acima. Ademais, importante destacar o fato de o Crash Ensemble ser uma das principais vitrines das obras dos compositores ligados ao coletivo e selo islandês Bedroom Community, atualmente uma das fontes principais de música erudita contemporânea no mundo.

 
O Attacca Quartet é dos quartetos de cordas mais novos da lista de quartetos de cordas célebres do nosso tempo. Focados no repertório contemporâneo, o quarteto dedica-se a apresentar e gravar novas obras de compositores do século 21, mas também revisita compositores barrocos, clássicos e românticos de quando em quando. Alguns dos seus mais recentes álbuns incluem: Orange, que apresenta peças para quarteto de cordas escrita pela compositora vencedora do Prêmio Pulitzer Caroline Shaw; três álbuns gravados pela Azica Records, incluindo um registro dos quartetos de cordas de Michael Ippolito e as obras completas para quarteto de cordas de John Adams; e um registro mais recente, o Real Life (Sonny Classical, 2021), com transcrições, releituras e intersecções envolvendo artistas do pop e da eletrônica: Flying Lotus, Squarepusher, Louis Cole, The Halluci Nation, Mid-Air Thief, TOKiMONSTA, Daedelus, Anne Müller e os produtores Nic Hard e Michael League do Snarky Puppy. Ainda em 2021 o Attacca Quartet gravou o álbum Of All Joys, que traz uma intersecção entre o minimalismo do final do século 20 com a música renascentista e pré-barroca de compositores como John Bennet, Orlando Gibbons, Clemens non Papa, Luca Marenzio e Gregorio Allegri, onde essas peças renascentistas são revezadas com peças de Arvo Pärt e Philip Glass num mesmo set list.


O Balanescu Quartet é um quarteto de cordas formado em 1987 pelo violinista virtuose Alexander Bălănescu, que convidou James Shenton (violino), Helen Kamminga (viola) e Nick Holland (violoncelo). Dentre suas raízes estão obras que evidenciam uma conexão da música de vanguarda com o pop e o jazz contemporâneo, incluindo canções e peças de The Lounge Lizards, John Lurie, Jack de Johnette, Ornette Coleman, David Byrne, Pet Shop Boys, Spiritualized, Kate Bush e Kraftwerk. Com um estilo enérgico e teatral, as performances do Ballanescu Quartet passaram a ser requisitadas nos mais variados palcos e cenários: eles já tocaram em locais tão contrastantes quanto o South Bank Centre de Londres e o Knitting Factory de Nova York (berço do free jazz e da música de vanguarda). Em 1989, o Ballanescu Quartet chamou a atenção após abrir um show do Pet Shop Boys diante de mais de 10.000 fãs da banda no Wembley Arena Stadium. Embora o Balanescu tenha uma postura mais interdisciplinar e não foque sua atuação apenas na faceta interpretativa da música erudita, seus álbuns com interpretações dos quartetos escritos por compositores como o inglês Michael Nyman, Gavin Bryars e Geoff Smith, o sul-africano Kevin Volans e o americano Micahel Torke são emblemáticas. Ademais, o quarteto já registrou outros tentos também na seara folk e world music: vide o álbum Arabian Waltz (Enja, 1996) com peças escrita pelo tocador de oud libanês Rabih Abou-Khalil; e vide também o álbum BalaEnescu (Universal Music Romania, 2019) com peças baseadas na música romani, compostas pelo próprio Alexander Bălănescu.





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