Nos últimos dias o mundo tem se comovido com a guerra declarada pela Rússia à Ucrânia. Não vamos entrar aqui, neste post, no mérito da questão de quem é a culpa: se é da Rússia, se é da Ucrânia, se é dos EUA e da OTAN. Assim como muitos outros conflitos da história do Leste Europeu, trata-se das mais antigas feridas ultrajadas entre povos e territórios que são abertas décadas -- e até séculos -- depois de aparentemente cicatrizadas. Além do mais, existe uma análise de geopolítica onde o bloco econômico da União Europeia e a OTAN -- uma aliança militar decorrente, ainda, da Segunda Grande Guerra -- avançam para tentar integrar os países que pertenciam a ex-União Soviética e que fazem fronteira com a atual Rússia, que, logicamente, se sente ameaçada com essa aproximação em suas fronteiras. Ou seja, são muitos os interesses e as ameaças a cutucarem as soberanias em ambos os lados e em termos gerais: econômicos, bélicos, culturais, geográficos e tudo o mais. E a Ucrânia, além de ser o maior país da Europa em termos de extensão territorial, é geograficamente o ponto central e estratégico entre a Rússia e o Ocidente. Mas, ao que parece, há uma unanimidade de que esses atuais ataques avassaladores da Rússia contra a Ucrânia são descabidos e intimidatórios: existe uma percepção, até mesmos dos países aliados da Rússia -- da China, por exemplo --, de que a diplomacia poderia muito bem lidar com esses interesses e ameaças nesse momento. O governo ucraniano e seu povo, por sua vez, tem demonstrado uma comovente resistência. Mas até quando? Por aqui, Brasil -- e aqui neste microscópico espaço musical --, só nos resta fazer todas as orações e torcer para que esse conflito evolua dos ataques para a diplomacia -- sem mais guerra, sem mais mortes, e sem ameaça nuclear. Neste post, trago ao ouvinte-leitor 10 álbuns em uma consternada homenagem nossa à Ucrânia e ao seu povo, evidenciando aqui os abrangentes traços étnico-culturais por meio de várias formas de música criativa gestadas por compositores e instrumentistas nativos desse país, para os quais, aliás, desejamos fortemente que estejam a salvos dos ataques russos. A Ucrânia, assim como vários países do Leste Europeu, possui uma diversidade enorme de povos, tradições e culturas, diversidade essa perpetuada por seus músicos, bandas e compositores. Segue abaixo alguns exemplos. Clique nos álbuns para ouvi-los. Ouça a playlist no final do post.
Roman Miroshnichenko - Temptation (Raritetъ, 2009). Roman Miroshnichenko, natural da cidade ucraniana de Dniprodzerzhynsk, é um virtuoso e mui premiado guitarrista adepto a jazz-fusion. Para efeito de referência, Miroshnichenko é um tanto influenciado por guitarristas do rock e do jazz tais como Steve Vai, John McLaughlin, Paco De Lucia, Larry Coryell e Al Di Meola, e sua produção musical traz essa mistura de sabores sonoros do Leste Europeu com o rock, o jazz-fusion e com um recheio de elaborados efeitos eletrônicos. Aqui neste interessante álbum, Miroshnichenko explora guitarras elétricas e acústicas. Com uma estética acústica um tanto próxima da guitarra de sonoridade romani, cigana e gipsy, Miroshnichenko é acompanhado de teclados, sintetizadores, pedais de efeitos, samples, percussão espanhola e vocais, obtendo uma instrumentação que dá um tom de world fusion um tanto transcendente, contemporâneo e inovador. Ou seja, neste álbum Miroshnichenko evidencia a forte influência da música romani, cigana e flamenca que permeia muitas regiões da Ucrânia e traz essas tradições para o plano do jazz-fusion contemporâneo!
Mikhail Alperin - Folk Dreams (Jaro, 1995). Nascido em 1956 na cidade de Kamianets-Podilskyi, o pianista Mikhail Alperin, também conhecido como Misha Alperin, alcançou considerável notoriedade ao liderar o aclamado Moscow Art Trio nos anos 90 e 2000. Tendo se radicado na Noruega, sua música é uma mistura de canções tradicionais do folclore montanhês russo, moldaviano, ucraniano, búlgaro e norueguês, com música erudita e jazz contemporâneo. Na verdade, Alperin cresceu na zona rural da Moldávia, e em 1980 ele forma uma das primeiras bandas de jazz desse país, tendo se mudado posteriormente para Moscou e, gradativamente, tendo incorporado elementos da música tradicional russa e dos países ligados a ex-União Soviética. Nessa fase de estadia em Moscou, Alperin também seria admitido na Orquestra do Teatro Bolshoi e na Orquestra Filarmônica de Moscou, onde conhece o trompista-cornetista Arkady Shilkloper, com quem forma uma longeva e legendária dupla: vide, por exemplo, álbum Waves of Sorrow, lançado pela ECM em 1989, onde esses dois músicos já ganham certa notoriedade internacional. No ano seguinte, em 1990, a dupla forma o Moscow Art Trio com o vocalista e clarinetista Sergeij Starostin, lançando com esse trio uma sequência de aclamados álbuns, incluindo este álbum Folk Dreams, que é lançado em 1995 em nome de Alperin, mas já conta com o seu Moscow Art Trio e vocalistas convidados. Neste álbum -- gravado em Moscou, na Companhia Estatal de Rádio, em 1992 --, Misha Alperin aplica arranjos em temas e canções folclóricas russas e moldavas, além de apresentar alguns dos seus próprios originais. A forma como Alperin combina uma instrumentação mínima de piano e trompa com os vocais -- canto, coral e evocações vocais folclóricas afins -- é um tanto emblemática, por vezes trazendo o canto popular das montanhas das fronteiras russas, moldavas, ucranianas e etc para o plano de uma certa contemporaneidade atemporal.
Michael Alpert & Julian Kytasty - Night Songs From A Neighboring Village (Oriente Musik, 2014). A história da canção popular ucraniana está diretamente ligada à tradição kobzar: tradição que vem das antigas cantigas acompanhadas apenas de uma bandura, instrumento de cordas ucraniano que traz certas semelhanças com o alaúde, a lira e a cítara -- por vezes também chamado apenas de kobza. E neste álbum, o multi-instrumentista klezmer Michael Alpert -- um dos grandes reavivadores da klezmer music judaica nos EUA -- se junta ao cantor kobzar e bandurista ucraniano Julian Kytasty para resgatar essa conexão que a klezmer music tem com a tradição kobzar. A Ucrânia, assim como a maioria dos países do Leste Europeu, tem sua população autenticamente milenar, mas também tem adições fracionadas de vários povos nômades e imigrantes, dentre eles uma parcela considerável de judeus. E aqui neste álbum de canções esses dois músicos mostram essa bela afinidade cultural entre a klezmer judaica e o kobzar ucraniano. Além da voz, Julian Kytasty também é proficiente em bandura, duduk e flautas tradicionais.
Natalya Pasichnyk - Consolation: Forgotten Treasures of the Ukrainian Soul (BIS, 2016). Neste álbum, a pianista erudita Natalya Pasichnyk e seus colegas exploram jóias raras dos principais compositores ucranianos da passagem do período romântico para o modernismo do século XX: Mykola Lysenko (1842 - 1912), Viktor Kosenko (1896 - 1938), Myroslav Skoryk (1938 - ), Yuliy Mejtus (1903 - 1997), Levko Revutsky (1889 - 1977), Borys Lyatoshynsky (1895 - 1968), Kyrylo Stetsenko (1882 - 1922), Mikhail Lermontov (1814 - 1841), Myroslav Skoryk (1938 - 2020), Mykola Kolessa (1903 - 2006), Vasyl Barvinsky (1888 - 1963), Valentyn Sylvestrov (1937 - ) e Arkady Filippenko (1912 - 1983). Ou seja, a pianista elabora um audacioso projeto de pesquisa onde piano e variadas formações de câmera exploram e interpretam peças de 13 dos principais compositores que são considerados autênticos responsáveis pelo processo de decantação e formação de identidade nacional da música erudita ucraniana, sendo que dois deles -- Myroslav Skoryk (1938 - ) e Valentyn Sylvestrov (1937 - ) -- são ainda vivos e producentes (pelo menos até recentemente, antes da Rússia invadir o país). Permeando uma clara transição entre as estéticas do romantismo e modernismo, essas peças realmente mostram as latências, os elementos, as cores tonais, as dissonâncias e os sentimentos nacionalistas ucranianos, além das características pessoais de cada compositor. É preciso lembrar, aliás, que a maioria desses compositores -- senão todos -- tiveram de conviver com a dominação da Rússia antes e durante o período soviético, experiencia longa e traumática que, com certeza, lhes influenciaram em termos da carga sentimental-nacionalista que suas peças passaram a exprimir. Os músicos presentes são Natalya Pasichnyk (piano), Luthando Qave (vocal barítono), Jakob Koranyi (cello), Emil Jonason (clarinete), Olga Pasichnyk (vocal soprano) e Christian Svarfvar (violino). A pianista ucraniana Natalya Pasichnyk, nascida em Rivne e posteriormente radicada na Suécia, é uma célebre jurista em várias competições internacionais de piano, além de ter uma sólida carreira como intérprete, já tendo lançado álbuns com obras de Bach, Mozart, Messiaen, Mendelssohn e Dvorak.
Yevhen Stankovych - Symphonies Nos. 1, 2 & 4 (Naxos, 2014). Este CD traz o registro de três sinfonias escritas por Yevhen Stankovych, um dos principais e mais aclamados compositores da Ucrânia na passagem da segunda metade do século 20 para o século 21. Nos anos de 1970, Stankovych entrou nos holofotes da repressão soviética por causa da sua ópera When the Fern Blooms, composta a pedido da companhia de concertos Alitepa para uma série de premiéres de obras de compositores soviéticos na Ópera de Paris: na época, o próprio secretário Mikhail Suslov, do Partido Comunista da União Soviética, mostrou incômodo com os elementos folclóricos ucranianos presentes na peça e pediu, portanto, que a mesma fosse retirada do programa e que todo o figurino fosse destruído. A ópera só foi ter sua estreia em 8 de abril de 2011, 33 anos após sua criação. Já essas suas Sinfonias Nos. 1, 2 e 4 são obras que perfazem uma curiosa transição da politonalidade soviética para uma postura tonal mais próxima ao estilo neorromântico com dissonâncias e sombreamentos tonais mais diluídos. A Sinfonia No. 1 - Larga, é uma peça escrita em 1973 para 13 instrumentos de cordas que soa bem próxima da atonalidade que permeou as obras do polonês Penderecki e do russo Schnittke em suas obras pós anos 60, numa das fases em que o sentimento permeado por aquele passado recente de Segunda Guerra Mundial e pela então vigente Guerra Fria trouxe uma sombria atonalidade cheia de sombreamentos e efeitos contrastantes para as obras desses compositores. A Sinfonia No.2 - Heróica (1975) já expressa o contrário: através de imponentes e exuberantes ponteios com uma orquestra completa com todos os seus naipes -- cordas, palhetas, metais e etc --, a peça desenvolve-se entre passagens tonais brilhantes com sobreposições atonais para evocar o heroísmo da sua gloriosa Ucrânia. A Sinfonia No.4 - Lírica (1977), por sua vez, foi originalmente escrita em um único e longo andamento para 16 instrumentos de cordas e já adentra à estética neorromântica, ainda que com algum sombreamento dissonante aqui e ali. A orquestra é a Sinfônica Nacional da Ucrânia e o maestro é Theodore Kuchar.
Valentyn Silvestrov - Touching the Memory (Brilliant Classics, 2018). Valentin Silvestrov (1937 - ) já é um compositor ucraniano de música erudita que deixou a atonalidade do modernismo e os sombreamentos dissonantes do romantismo tardio soviético para explorar uma certa aproximação com a estética minimalista -- influência advinda dos EUA. Considerado um dos mais destacados compositores ucranianos dos últimos tempos -- por vezes recebendo comparações com Arvo Pärt (Estônia) e Henryk Górecki (Polônia) --, Silvestrov tem uma forma um tanto elegante de criar sombreamentos tonais e modais, e criar camadas melódicas que fornecem uma única e delicada tapeçaria de texturas consonantes, sempre com carga dramática e emocional. Aqui, neste CD, temos o Ensemble Musiques Nouvelles interpretando um conjunto de peças curtas para piano, voz e orquestra de câmera baseadas nas formas das canções, valsas, óperas, elegias, réquiens e hinos e etc, sendo algumas dessas peças também evocam passagens contrastantes entre dissonância e consonância -- mas sempre com uma singeleza pertinente com a estética minimalista. O título do álbum reflete à melancolia e nostalgia com as quais Silvestrov aqui resgata memórias e afinidades várias: ecos do romantismo soviético, sua predileção pelo lirismo minimalista a La Arvo Pärt, sua fixação pela poesia de Paul Celan, entre outras memórias e afinidades.
Virko Baley - Jurassic Bird (Cambria, 1995). A história de vida do compositor ucraniano, naturalizado americano, Virko Baley é de uma superação e tanto. Nascido em Radekhiv, que era um território da Polônia e agora é da Ucrânia, sua vida começou a se tumultuar logo em sua fase de recém-nascido, quando exército de Hitler invadiu a Polônia e a Segunda Guerra Mundial explodiu. Antes de comemorar seu primeiro aniversário, no seu primeiro ano de vida, seu pai foi enterrado no campo de concentração de Auschwitz, enquanto ele, sua mãe, seus tios, tias e avó receberam autorização do exército alemão para se mudarem para um campo de trabalho numa fazenda na Eslováquia, posteriormente sendo transferidos para um campo agrícola na Alemanha, mudando-se seguidamente de cidade em cidade, chegando a trabalharem em campos agrícolas em Munique e depois em Regensburg. Após o final da Guerra, o garoto Virko Baley recebeu alguma iniciação musical ainda na Alemanha com o colega ucraniano Roman Sawycky, mas logo sua família se mudaria para os EUA, onde o jovem conseguiria adquirir seu primeiro piano e conseguiria entrar para estudar no Los Angeles Conservatory (atualmente California Institute of the Arts). Nos EUA, Virko Baley desenvolveu sólida carreira como compositor, maestro e catedrático, sendo maestro titular da Nevada Symphony Orchestra e lecionando por 46 anos na University of Nevada, Las Vegas. Esse CD acima, registra, portanto, essa sua fase de recém mudança da Califórnia para Nevada e das primeiras obras maduras que se tornariam célebres: seus Nocturnals e Partitas compostos a partir de 1970. Seu Nocturnal No. 3 para três pianos e sua Partita No. 1 para três trombones e pianos inauguraram o uso de vários elementos criativos com ecos de sua infância difícil e das suas reflexões como um ex-refugiado ucraniano: o conceito não linear de tempo, desenvolvimentos caóticos e irregulares, o uso de silêncios e passagens reflexivas e contrastantes, o conflito através da sobreposição de dois ou mais eventos diferentes dentro das estruturas das peças, livres improvisações permutadas com diferentes formas de notações na partitura, entre outras idiossincrasias. Essa intrincância é advinda tanto da influência de colegas americanos -- tais como George Crumb e Elliott Carter, dois mestres em criar essas dinâmicas conflitantes -- quanto das suas próprias memórias ucranianas, o que faz com que muitas das suas peças exijam uma rigorosa preparação técnica dos instrumentistas, tanto em termos das partes solistas quanto em termos da sincronia exigida para se tocar em grupo mantendo essa dinâmica de conflito entre passagens com desenvolvimentos e andamentos diferentes: caso da peça "Sculptured Birds" para clarinete e piano, também presente neste álbum. DakhaBrakha - Yahudky (Not On Label/ UKRmusic, 2007). Este interessante quarteto ucraniano -- que até lembra um pouco as primeiras abordagens mais tradicionais do grupo finlandês Värttinä, da Carélia (região noroeste da fronteira entre Finlândia e Rússia) -- é uma das mais notáveis bandas de música tradicional e folclórica do Leste Europeu. Seu nome deriva dos verbos ucranianos Давати e Брати, que significam "dar" e "tomar", respectivamente. Ao mesmo tempo, o nome do quarteto também deriva da sua associação com o Dakh Contemporary Arts Center, fundado e dirigido pelo influente dramaturgo ucraniano Vladyslav Troitskyi. A história do quarteto começa quando Vladyslav Troitskyi decide criar uma banda de música folclórica para atuar em suas idiossincráticas peças de teatro. O grupo não apenas ganha notoriedade nacional como passa a se apresentar em vários países da Europa, praticamente ganhando o status de uma banda pop. Mas o mais interessante é que o DakhaBrakha consegue congregar os vários folclores e tradições locais com elementos performáticos das artes de vanguarda, muita das vezes oferecendo um elaborado arranjo instrumental, praticamente reinventando a música folk da Ucrânia e das suas cercanias do Leste Europeu. Não obstante, o DakhaBrakha é fortemente engajado nas causas políticas ucranianas através da sua arte e da sua música, tendo apoiado os protestos do Euromaidan (movimento revolucionário que protestou contra as sanções da Rússia e pleiteou a integração da Ucrânia à União Europeia) e tendo se posicionado contra a anexação russa da Criméia através do uso das imagens dos protestos projetadas em telões durante seus concertos. Este álbum acima, inclusive, soa mais tradicional que os outros álbuns do DakhaBrakha e evidencia que grupo faz questão de enfatizar suas raízes étnico-culturais com o Leste Europeu e com as tradições históricas da Ucrânia, incluindo a tradição dos cossacos zaporojianos, um dos povos ancestrais formadores da identidade ucraniana -- as vestimentas, com essas batas e vestidos longos e com esses longos chapéus escuros, são uma clara homenagem aos zaporojianos. O grupo é formado por Marko Halanevych (vocais, goblet drum, tabla, didgeridoo, harmônica, acordeon, cajón, jaw harp), Olena Tsybulska (vocais, percussão), Iryna Kovalenko (vocais, djembe, flauta, buhay , piano, ukulele, zgaleyka, acordeon) e Nina Garenetska (vocais e violoncelo).
Enver İzmaylov - Storm (ArtBeat Music, 2012). O vocalista e guitarrista Enver İzmaylov nasceu na República Socialista Soviética do Uzbeque (atual Uzbequistão) em uma família de tártaros crimeanos, um grupo populacional étnico de origem turca que habita a região da Criméia, território ucraniano recentemente anexado pela Rússia em 2014 -- anexação ainda sem o reconhecimento oficial da ONU, OTAN e da União Europeia. Posteriormente, Enver İzmaylov e sua família retornariam à Criméia, onde o jovem músico empreenderia sólida carreira nacional com reconhecimento internacional. İzmaylov seria, então, um dos vocalistas e guitarristas ucranianos mais emblemáticos a transitar entre o folk e o jazz-fusion, sendo dono de uma particular forma de abordar a guitarra a partir da técnica do tapping -- técnica que ficou famosa nas mãos do guitarrista americano Stanley Jordan, diga-se de passagem. Ocasionalmente, Enver İzmaylov também é um proficiente vocalista, dono de uma particular forma de usar o canto gutural de garganta. Neste álbum instrumental acima, o guitarrista compila e evidencia o melhor do seu jazz-fusion.
Zavoloka - Plavyna (Nexsound/ Laton, 2005). A sound designer Kateryna Zavoloka é uma compositora de música experimental, noise e música eletrônica contemporânea, que também atua como improvisadora, performer e designer gráfica. Mantendo moradia em Kiev, capital da Ucrânia, mas frequentemente radicada em Berlim, Zavoloka evidencia uma clara evolução em sua discografia: partindo de álbuns com construções mais abstratas e indo em direção à estética da IDM (Intellingence Dance Music), mas sempre mantendo o caráter outsider, intrincado e experimental da sua intrigante arte musical. Este álbum, lançado pelo selo ucraniano Nexsound e pelo selo austríaco Laton, em 2005, é um bom exemplo de como a eletrônica experimental de Zavoloka se trajava em seu início de carreira: a construção abstrata, proporcionada por eletrônicos analógicos e digitais, recebe uma experimental tratativa da concepção denominada como "glitch", conceito que faz uso de ruídos produzidos por componentes eletrônicos com falhas técnicas para se produzir um design sonoro experimental, rústico e abstrato. Ademais, a maior inspiração de Zavoloka neste álbum foi a cultura étnica da região Ciscarpática da Ucrânia, propósito que gestou uma híbrida sonoridade através dessa mistura de influências folclóricas com uma eletroacústica rústica e futurista de estilo glitch. Logo após o lançamento deste álbum, Zavoloka recebeu menção honrosa no Prix Ars Electronica, uma das mais importantes premiações anuais no campo da música eletrônica criativa. Plavyna é um dos mais interessantes álbuns de eletrônica dos anos 2000.
Tweet