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UK Jazz Scenes - O Jazz Contemporâneo no Reino Unido: grime, nu jazz, broken beat, afrobeat, dubstep, trip-hop, e etc


É verdade que o Reino Unido tem hoje algumas das cenas mais ricas e pulsantes do jazz contemporâneo a nível mundial, cenas nas quais encontra-se um rico e colorido mosaico de ramificações estilísticas e culturais. Mas é preciso salientar que esse fenômeno não é exatamente recente. Essa ebulição do jazz na Terra da Rainha inicia-se já entre fins dos anos 80 e início dos anos 90, tendo como modelo inicial o forte renascimento do jazz nos EUA impulsionado pelos chamados "young lions". Músicos pioneiros como Courtney Pine e Soweto Kinch, por exemplo, foram fortemente influenciados pelos irmãos Wynton Marsalis e Branford Marsalis em suas abordagens mais próximas ao post-bop. Entretanto, com o advento da internet, com o advento das redes sociais e das plataformas de streaming, a impressão épica que nos é evidenciada é a de que esse boom criativo do jazz contemporâneo no Reino Unido começou agora, mais recente. E isso não é verdade... Mas, de fato, chega a ser surpreendente como os anos 2000 e 2010 proporcionaram seguidas ondas de inovação ainda mais ebulitivas ao jazz contemporâneo na Inglaterra a partir de progressivas fusões urbanas de elementos advindos de estilos mais orgânicos tais como post-bop, jazz-funk, afrobeat, neo-soul, spiritual jazz e rítmos afro-caribenhos com inúmeros elementos advindos de estilos mais eletrônicos, tais como nu jazz, trip hop, acid-house, ambient, chillout, drum'n'bass, dubstep, broken beat, jungle, grime..., entre vários outros estilos predominantes no Reino Unido, incluindo o folk e o pop-rock de verve mais "brit-pop". Com disseminações híbridas a partir das misturas desses estilos acústicos e eletrônicos, o jazz tem florescido com grande proeminência nas cenas em Londres, Bristol, Manchester, Birmingham, Norwich, Cardiff, Leeds e vários outros points. Em cada um desses condados e zonas urbanas britânicas, o jazz ganha dialetos, traços e elementos idiomáticos proeminentes das cenas pub, dub e clubber instaladas nos points mais movimentados, dando origem a pulsantes ondas de música instrumental cheias de sub-estilos dotados de inovações híbridas e frescas. Músicos precursores dessas evoluções incluem veteranos que, como já citado, desde os anos 80 e 90 ajudam o jazz a florescer na Inglaterra, como o multi-palhetista Courtney Pine, o contrabaixista Gary Crosby, o pianista John Taylor, o saxofonista John Dankworth, o trompetista Guy Barker, o saxofonista Denys Baptiste e os vários músicos, DJ's e bandas advindos dos movimentos do acid jazz e nu jazz, tais como Incognito, Jean-Paul 'Bluey' Maunick, Urban Species, Brand New Heavies, Eddie Piller, Gilles Peterson, James Taylor Quartet, Jamiroquai e Young Disciples. O acid jazz, aliás, foi um importante movimento precursor na modernização do jazz do Reino Unido nos anos 80 e 90, sendo logo sucedido pelo nu jazz (ou jazztrônica), com muita influencia da cultura clubber britânica.




Importante também ressaltar que, assim como ocorreu com a revalorização do jazz através de programas educacionais das escolas e universidades dos EUA, o papel do fomento público e privado do jazz como disciplina educacional também foi proeminente para o sucesso do gênero na Grã-Bretanha. Para além dos movimentos do acid jazz e nu jazz, os programas educacionais e culturais da organização Tomorrow's Warriors, fundada pela vocalista Janine Irons e pelo contrabaixista Gary Crosby, foi uma importantíssima fonte a revelar e impulsionar jovens talentos e novas bandas. Muitos dos grandes músicos do jazz londrino atual foram —— e continuam sendo —— revelados e impulsionados pela Tomorrow's Warriors. Assim, através desses fatores e fenômenos, podemos dizer que nos anos 2000 surgiu uma segunda onda de inovações impulsionada por uma segunda geração de jovens músicos, incluindo figuras como os saxofonistas Denys Baptiste, Sowet Kinch e Shabaka Hutchings, o DJ Floating Points, o baterista Seb Rochford e sua banda Polar Bear, o saxofonistas Pete Wareham e Mark Lockheart, dentre muitos outros. Muitos desses músicos, aliás, são remanescentes de famílias advindas da Windrush Generation, trazendo consigo heranças culturais que se fundem, então, com a urban music e a cultura clubber predominante nos points mais efervescentes. A Windrush Generation, formada por descendentes e imigrantes advindos dos países africanos e afro-caribenhos dantes colonizados pela Inglaterra, é, então, um forte componente a influenciar toda a cultura britânica, de forma que inúmeros elementos advindos de estilos como o ska, o dub e o reggae da Jamaica, a soca de Trinidad & Tobago, os ritmos amalgamados de Barbados (tuk, calypso, spouge e etc) e o afrobeat da Nigéria, entre outros, são muito presentes dentro dos estilos de jazz e musica eletrônica produzidos nas várias cenas do Reino Unido. Essas gerações de músicos mais jovens foram responsáveis por darem roupagens mais urbanas para essas fusões de jazz com esses elementos diaspóricos, miscigenando recursos orgânicos com recursos eletrônicos. Isso fica ainda mais evidente na mais recente onda de fusões impulsionada por uma terceira geração de bandas e jovens músicos surgidos na década de 2010, a qual inclui nomes como Ezra Collective, Kokoroko, Nubya Garcia, Kamaal Williams, Yussef Dayes, Alfa Mist, Theon Cross, Moses Boyd, dentre outros —— músicos atualmente na faixa dos seus 30 anos de idade. Neste post, iremos apresentar, então, um panorama com alguns dos jovens músicos que estão inovando o jazz no Reino Unido, incluindo músicos adeptos ao post-bop. As mulheres, inclusive, tem tido uma importante atuação pró inovação e contra a misoginia nas UK jazz scenes! Clique nas imagens para ouvir cada músico, grupo e banda. Ouça a playlist no final do post para ter uma apreciação mais panorâmica.


Soweto Kinch (saxofonista, flautista)de Birmingham & Londres
Sendo um dos beneficiários do importante programa educacional da Tomorrow's Warriors, pode-se dizer que Soweto Kinch é o grande representante de uma segunda geração de músicos a efervescer o jazz britânico já no início dos anos 2000, dando sequência ao boom criativo representado por nomes como Gary Crosby e Courtney Pine e iniciado entre fins dos anos 80 e início dos anos 90. Filho de um nativo de Barbados e uma atriz inglesa —— o dramaturgo Don Kinch e a atriz anglo jamaicana Yvette Harris ——, Soweto Kinch é um dos principais saxofonistas a ter cativa presença na mídia e no cenário de jazz em Londres, sendo uma figura importante a dar voz musical para os estudos sociais relacionados aos temas da diásporas afro-britânicas. Também tem forte ligação com a cena de Birmingham, onde morou: seu álbum A Life in the Day of B19: Tales of the Tower Block (Dune Records, 2006) é dedicado integralmente ao cotidiano dos moradores afrodescendentes nos prédios dessa área, que é a segunda maior cidade da Inglaterra. Tendo se interessado pelo jazz nos anos 90 através de Wynton Marsalis, Soweto Kinch logo passou embasar sua música por duas vias temáticas: valorização das tradições afros, com estudos dos acontecimentos históricos relacionados à diáspora afro-britânica; e a representatividade da música urbana inglesa pelas vias do hip hop, do dub e do reggae, seguindo uma trilha já anteriormente traçada por músicos americanos como Branford Marsalis, Greg Osby e Roy Hargrove, os quais, nos anos 90 e início dos anos 2000, foram responsáveis pelo movimento de fusão do post-bop contemporâneo com elementos do hip hop. Recentemente, aqui no blog, dedicamos um post inteiro à Soweto Kinch!























Shabaka Hutchings (multi-palhetista, flautista)de Birmingham & Londres 
Das figuras mais proeminentes do jazz contemporâneo britânico, pode-se dizer que Shabaka está no topo da lista dos mais influentes. Nascido em Londres, com infância em Barbados, adolescência em Birmingham e tendo morado na África do Sul, o saxofonista Shabaka Hutchings se tornou uma das figuras mais criativas da Inglaterra, sendo um dos pioneiros das fusões e inovações que transformaram o jazz britânico nesses últimos tempos. No final da década de 2000, após concluir seus estudos eruditos do clarinete, ele também ingressa nos programas da Tomorrow's Warriors, onde conhece alguns dos grandes jovens músicos do Sul de Londres com os quais daria início aos seus grupos e bandas posteriores. Assim, é na primeira metade dos anos 2010 que Shabaka funda as bandas The Comet Is Coming (um trio de sax, sintetizadores e percussão) e Sons of Kemet (um quarteto com saxes, duas baterias e tuba). Adotando uma postura eclética ante à revalorização da diáspora afro-britânica, Shabaka e seus sidemans logo expandem-se para muito além das vias precursoras do hip hop e do acid jazz inglês e logo adicionarão em seu caldeirão de fusões uma nova miríade de elementos advindos da eletrônica e do pop e rock de verve mais "brit-pop" e uma diversidade de misturas afro-diaspóricas com tons, traços e elementos de afrofuturismo —— com muita influência de Sun Ra, diga-se de passagem... ——, avant-garde, spiritual jazz, afrobeat e rítmos afro-caribenhos, praticamente impulsionando um fenômeno eclético que enriqueceu sobremaneira o jazz contemporâneo em Londres. Mais recentemente, Shabaka Hutchings deixou de tocar saxofones para explorar um conjunto de clarinetes e flautas específicas, adotando as vias mais etéreas da new age e do spiritual jazz: é o caso, por exemplo, do seu último projeto solo, Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace (Impulse, 2024) que traz convidados tais como  Anum Iyapo (seu pai), André 3000, Laraaji e o DJ Floating Points.



























Floating Points (DJ), de Manchester
Samuel Shepherd, mais conhecido como Floating Points, não é essencialmente um músico de jazz, mas é um produtor e DJ da cena clubber aficionado pelo gênero que tem tido diversas associações e colaborações com músicos de jazz ingleses e americanos. Suas produções e suas amostragens podem ser ouvidas em diversos projetos de músicos como Kaamal Williams, Thundercat, Miguel Atwood-Ferguson e Shabaka Hutchings. Em 2021, por exemplo, Shepherd lançou um álbum colaborativo com ninguém menos que o veterano saxtenorista Pharoah Sanders, ambos juntamente com a Orquestra Sinfônica de Londres: o álbum, intitulado Promises, foi altamente aclamado pela crítica e foi tido como o último sopro de criatividade de Pharoah Sanders, que faleceria em 24 de Setembro de 2022. Shepherd também é líder do Floating Points Ensemble, grupo de músicos com o qual explora arranjos instrumentais mais elaborados. Ambientado em estilos de música eletrônica tais como ambient, techno, acid-house, chill out, entre outros, Floating Points por vezes evidencia uma musicalidade mais voltada para aspectos do lounge, do spiritual jazz e das reminiscências do jazz contemporâneo. 
 


Yussef Dayes (baterista), Sul de Londres
Um dos nomes mais proeminentes do momento é o de Yussef Dayes (foto acima, no início do post). Sendo um baterista nascido no sudeste de Londres, em meados dos anos 2010, formou uma dupla inovadora com o tecladista Kamaal Williams e foi contratado pela gravadora Brownswood Recordings, fundada nos anos 2000 pelo veterano DJ e radiófilo Gilles Peterson. Na adolescência, Yussef Dayes, atualmente na casa dos seus 30 e poucos anos de idade, estudou com o grande baterista americano Billy Cobham e desenvolveu seu gosto pela música embalado pelas ondas de inovação de cenários como o de Bristol, Somerset e Croydon, onde estilos de música eletrônica tais como o trip-hop e o dubstep (estilo proeminente do velho estilo dub, da Jamaica) contracenam com estilos de jazz tais como o acid jazz e o mais jovem broken beat. Podemos dizer, aliás, que Yussef Dayes é um dos nomes principais do jazz contemporâneo inglês a elevar o broken beat à níveis mais criativos, com suas baquetas e seu drum kit repleto de beats quebradiços e polirrítmicos a embalar melodias e tons frescos, além de explorar estilos variados de afrobeat, dub, jazz-funk, neo-soul e trip-hop. Estes seus dois álbuns mais recentes, Black Classical Music (Brownswood/ Nonesuch, 2023) e The Yussef Dayes Experience (2024), são exemplos das variedades estilísticas reunidas pelo baterista em suas músicas autorais. Altamente aclamado como um dos grandes registros de 2023, o álbum Black Classical Music, como o próprio título denota, apresenta toda uma miríade de elementos afro-diaspóricos presentes na contemporaneidade britânica e teve a colaboração de artistas importantes da Inglaterra, Jamaica e EUA tais como Jahaan Sweet, Rocco Paladino, Shabaka Hutchings, Tom Misch, Chronixx, Masego, Jahaan Sweet e Leon Thomas, entre outros. Músico essencial!

Kamaal Williams (tecladista, baterista)Sul de Londres
O tecladista e baterista Kamaal Williams (originalmente chamado Henry Wu) é outro das figuras essenciais do jazz contemporâneo britânico. Ele ganhou proeminência a partir da segunda metade dos anos 2010 com a dupla Kamaal Yussef ao lado do baterista Yussef Dayes, vide o álbum  Black Focus (2016) e outros registros posteriores lançados pela gravadora Brownswood Recordings, do produtor e DJ Gilles Peterson. Mas desde 2012 ele vem lançando álbuns em selos independentes com o nome de Henry Wu (e outros pseudônimos), já tendo lançado três álbuns solo em sua própria gravadora Black Focus, incluindo The Return (2018), Wu Hen (2020) e Stings (2023). Kamaal Williams —— fortemente influenciado por aspectos da espiritualidade do islã, da cultura chinesa, do grafiti e da urban music —— é, então, uma das figuras pioneiras desse jazz contemporâneo inglês com levadas rítmicas do broken beat e elementos do acid house. Seus álbuns sempre estão repletos de beats quebradiços, grooves frescos e uma repaginação inovadora do uso da bateria e do contrabaixo acústico em walking bass, além de um mix inovador de samplers, sintetizadores, guitarra elétrica e synth bass em peças amalgamadas com elementos de electro-funk (com uma forte influência de Herbie Hancock, aliás...), R&B, hip hop, grime, UK garage (um tipo de dance-pop com amostras vocais e batidas eletrônicas funkeadas, surgido nos anos 90), cosmic music (com influência de Sun Ra), spiritual music (com influências da religiosidade islâmica), as batidas eletrônicas quebradiças do broken beat, e etc. Ao falar sobre suas influências, Kamaal costuma citar nomes como Sun Ra, Miles Davis, Donald Byrd, Jamiroquai, Roy Ayers, Herbie Hancock e J Dilla.
 


Alfa Mist (pianista, produtor)Newham, Grande Londres 
Alfa Sekitoleko, sob o nome artístico de Alfa Mist, é um dos grandes produtores e pianistas do Reino Unido. Ele é ambientado mais propriamente na cena noroeste do Norte de Londres, região também chamada de Grande Londres. Sua incursão musical se deu através dos samples de hip hop e do estilo grime, muito comum na cena clubber da sua região. E foi através dos samples, então, que Alfa Mist teve contato com discos de jazz, logo enviesando sua carreira para o estudo autodidata do piano. Dessa forma, embora tenha estudado teoria e composição musical na universidade, seu estilo pianístico foi construído preponderantemente de forma autodidata através do piano acústico e de vários tipos de pianos elétricos (Rhodes, Wurlitzer e etc), estilo ao qual também incluiu diversos procedimentos e elementos da música pianística erudita. Além dos samples de hip hop e do grime, seus álbuns trazem fortes influências de post-bop, neo-soul e jazz-funk, por vezes repletos de faixas com batidas mais cadenciadas ao estilo de J Dilla. Com um estilo mais cadenciado e mais apegados às ressonâncias dos pianos acústicos e elétricos, a música de Alfa Mist apresenta, pois, uma vibe mais envolvente e ressonante, por vezes com o uso de vocais falados e/ou cantados. O último dos cinco álbuns de Alfa Mist, Variables (Anti, 2023), apresenta uma liga jazzística envolvente e é uma mostra perfeita da variedade de estilos que o pianista tem misturado em suas músicas, incluindo até pitadas de world music africana através da participação do vocalista e músico sul-africano Bongeziwe Mabandla.

 

Theon Cross (tubista), de Londres
Outro dos remanescentes dos programas da legendária Tomorrow's Warriors, Theon Cross é um dos grandes músicos a colocar a tuba no olimpo do jazz contemporâneo, primeiramente através das suas participações como membro do Sons of Kemet, de Shabaka Hutchings, e depois através dos seus próprios projetos inovadores. Filho de pai jamaicano e de mãe nascida na ilha caribenha de Santa Lúcia, Theon Cross tem enfatizado o papel inovador da tuba em faixas mais acústicas e orgânicas calcadas no afrobeat e numa variedade de rítmos afro-caribenhos, além fusões com hip hop, eletrônica e grime aqui e ali. Para além dos seus projetos, a tuba de Theon Cross tem sido muito requisitada em participações de shows e discos de figuras do jazz dos EUA e do Reino Unido tais como a saxofonista Nubya Garcia, o baterista Moses Boyd, a saxofonista Cassie Kinoshi e seu SEED Ensemble, o pianista americano Jon Batiste, a cantora escocesa Emeli Sandé, o rapper Kano, o baterista americano Makaya McCraven, entre vários outros. Seus últimos álbuns, Fyah (Gearbox Records, 2019) e Intra-I (New Soil Records, 2021), alcançaram considerável aclamação ante a crítica especializada.



Ezra Collectivede Londres
Ezra Collective é um seminal quinteto britânico de jazz contemporâneo composto pelo baterista e bandleader Femi Koleoso, pelo contrabaixista TJ Koleoso, pelo tecladista Joe Armon-Jones, pelo trompetista Ife Ogunjobi e pelo saxofonista tenor James Mollison. A banda funde jazz com elementos de afrobeat, calypso, reggae, hip-hop, soca e soul, frequentemente colaborando com diversos outros músicos de jazz e hip hop baseados em Londres. O uso do aspecto festivo mais voltados para levadas e cadências rítmicas animadas do afro-cuban, do calypso, da soca e doutros rítmos afro-caribenhos é uma das suas marcas registradas. Em 2019, após o lançamento do seu revelador EP Juan Pablo: The Philosopher (2018), o Ezra Collective lançou seu álbum de estreia, You Can’t Steal My Joy, com participações de músicos britânicos como Jorja Smith e Loyle Carner, além de uma participação do grupo Kokoroko. Em 2023, com o lançamento do seu segundo álbum, Where I’m Meant to Be, o Ezra Collective ganhou o cobiçado Prêmio Mercury, sendo esse o primeiro grupo e registro de jazz a vencerem o prêmio em sua história de 31 anos. O quinteto também já ganhou duas vezes o MOBO Awards.



Moses Boyd (baterista)do Sul de Londres
Moses Boyd —— produtor, radialista, baterista, bandleader e figura influente na cena londrina —— é um dos nomes centrais quando o assunto é a riqueza da percussão e da bateria dentro do jazz contemporâneo britânico. Nascido da ascendência dominicana de seu pai e da ascendência jamaicana de sua mãe, Moses Boyd forjou um estilo onde a variedade dos seus beats e grooves se dá através da fusão diaspórica de vários rítmos e elementos tais como o nu jazz, o fusion, o drum'n'bass, o broken beat, o grime, o jungle, o afrobeat e rítmos afro-caribenhos como a soca e o reggae. Interessante enfatizar, aliás, as formas inovadoras e contemporâneas em como ele cria seus próprios grooves inusitados a partir da fusão desses elementos e rítmos, mostrando um sincretismo musical que tem sido de grande destaque na cena londrina. Ao falar das suas influências, Moses Boyd sempre cita o trompetista Miles Davis, o DJ Gilles Peterson e o rapper Dizzee Rascal, um dos pioneiros do grime. Moses Boyd também é altamente aclamado pelos registros da dupla Binker & Moses (com o saxofonista Binker Golding) e da sua banda Exodus formado com Theon Cross (tuba), Artie Zaitz (guitarra), Binker Golding (sax) e Nathaniel Cross (trombone). Moses Boyd também é um dos remanescentes dos programas da legendária Tomorrow's Warriors.
 


Binker Goldingdo Sul de Londres
Reconhecido pela dupla Binker & Moses que forma com o influente baterista Moses Boyd, o qual conheceu nos programas educacionais da Tomorrow's Warriors, o saxofonista Binker Golding tem levado seus projetos solos mais para as fusões do post-bop mais acústico com o brit-pop e com uma variedade de elementos rítmicos da cena londrina, por vezes  adotando as roupagens mais melódicas e líricas. Seu primeiro álbum Abstractions of Reality Past and Incredible Feathers (Gearbox, 2019), enfatiza bem essa linhagem mais melódica e acústica. Já em seu segundo álbum, Dream Like A Dogwood Wild Boy (Gearbox, 2022), Binker Golding também incluirá música folk, country e blues em suas abordagens. Já com sua dupla Binker & Moses, o saxofonista explora desde variados efeitos e batidas advindos do grime, do hip hop, da música eletrônica em geral em combinações com vários estilos de jazz... até deformações do avant-garde e efeitos mais experimentais. Binker Golding adota, portanto, um viés jazzístico mais eclético e sincrético em seus projetos.

































Joe Webb (pianista)de Cardiff, País de Gales
O hábil pianista galês Joe Webb, quase sempre atuando com o formato de piano-trio, já se ambienta nas repaginações inusitadas do jazz de verve mais old style, sendo um aficionado por estilos e elementos tais como ragtime, stride, hinos tradicionais, baladas e swing jazz, por vezes contracenando essas reminiscências com seu gosto pelas canções contemporâneas do brit-pop. Em seu site, Joe Webb conta que é muito aficionado pelas temáticas do futebol —— seu hobby extra-musical preferido —— e pelos estilos de pianistas históricos tais como Fats Waller, Art Tatum, Oscar Peterson e Teddy Wilson. Com três álbuns um recente EP lançado pela Edition Records, seu registro de verve mais contemporânea é o Daydreamer (Ubuntu, 2019). Seu piano trio se ambienta, então, em uma variedade de abordagens vintages e contemporâneas e é formado com o contrabaixista Will Sach e com o baterista Sam Jesson. Uma das revelações recentes do jazz inglês, Joe Webb é um dos nomes a não perder de vistas. Joe Webb toca frequentemente com o guitarrista Rob Luft.
 


Rob Luft (guitarrista)de Londres
Estrela da Edition Records e da gravadora alemã ECM Records, Rob Luft é um dos jovens guitarristas a rejuvenescer as misturas e congruências entre o post-bop contemporâneo e os ecos do indie rock, jazz fusion, folk, brit-pop e world music. Com timbres que vai do folk à guitarra mais elétrificada, seu toque é singelo e refinado e seu range de influências parece abranger de Jim Hall à Kurt Rosenwinkel, passando por  John McLaughlin, Pat Metheny e Paco de Lucia. Contudo, ao que parece, essas influências são apenas referências ilustrativas e longínquas, uma vez que que Rob Luft realmente possui um estilo melódico-harmônico próprio que amalgama diversas inspirações, diversos elementos e diversos arranjos. Seus três  álbuns lançados pela Edition Records ——  Riser (2017) , Life Is The Dancer (2020) e Dahab Days (2023) —— são exemplos acessíveis da sua proficiência e dos seus arranjos sempre muito requintados. Sendo também muito requisitado como sideman, a guitarra de Rob Luft pode ser ouvida em registros com nomes como Django Bates, John Surman, Manu Katché, Arve Henriksen, Avishai Cohen (trompetista), Ben Wendel e The Cinematic Orchestra, entre muitos outros.
 


Gogo Penguin (piano-trio)de Manchester
Um dos piano-trios mais festejados dos últimos tempos é justamente o Gogo Penguin, que inicialmente sofreu forte influência do grande Esbjorn Svensson Trio. Porém, o Gogo Penguin logo tratou de diferenciar-se através de uma amálgama muito contemporânea composta por elementos do nu jazz e da ambient music, passando por um bass line eletrônico poderoso, riffs melódicos repetitivos baseados no brit-pop, conduções rítmicas repletas de breakbeats, música minimalista contemporânea (ao estilo cinemático de Philip Glass), música erudita e efeitos ressonantes de timbres baseados na música eletrônica. Sendo uma das bandas de jazz com praticamente um status de pop-star, o trio é atualmente formado pelo pianista Chris Illingworth, pelo contrabaixista Nick Blacka e pelo baterista Jon Scott. É preciso lembrar, aliás, que o Gogo Penguin, dantes gravado e distribuído pela Gondwana Records, logo passou a ser uma das apostas de selos e gravadoras maiores tais como a Blue Note e XXIM Records, uma subsidiária da Sony Music. Além de Esbjörn Svensson e Philip Glass, as inspirações da banda incluem figuras como Aphex Twin, Squarepusher, Massive Attack e Brian Eno.
 


Ishmael Ensemblede Bristol
Foi influenciados pela movimentada cena clubber e pelos vários pubs que tocam jazz e dub music em Bristol, que o saxofonista e produtor Pete Cunningham uniu-se a uma tropa de músicos para fundar o Ishmael Ensemble, uma banda que une jazz e eletrônica com texturas, batidas e camadas incomparáveis. Em Bristol há uma movimentada cena musical —— a chamada dub scene, impulsionada pelo que também se chama de "sound system culture" —— onde elementos do britpop, do grime, do trip hop, do dub e do reggae jamaicano, do dubstep londrino (estilo mais forte em Croydon), do acid house e do drum'n'bass se misturam em amálgamas únicas. Outro dos estilos a remanescer nos anos 2010 foi o "future bass", com linhas de baixo graves, densas, psicodélicas e futuristas. Pete Cunningham e seu Ishmael Ensemble, pois, se inspiram em todos esses elementos para criar suas fusões com batidas e texturas únicas, sem que, contudo, soem sugestivos ou óbvios em relação a esses e outros estilos já convencionados. A trinca de álbuns A State of Flow (2019), Visions of Light (2021) e Versions of Light (álbum com remixes e participações, lançado em 2022), acessíveis nas plataformas de streaming, já oferecem um mosaico instigante e variado dos arranjos e das fusões psicodélicas multigêneros do Ishmael Ensemble. Embora sendo essencialmente uma banda instrumental com ambiências eletrônicas, tendo começado como um quarteto —— formado com Pete Cunningham (saxofone), Rory O'Gorman (bateria) e Jake Spurgeon (contrabaixo e sintetizadores) e Stephen Mullins (guitarras) ——, o Ishmael Ensemble também tem atuado com a vocalista Holly Wellington (aka Holysseus Fly) e tem incorporado formas variadas de vocais cantados, falados (spoken word) e vocalizes em suas fusões. Ademais, os EP's de 2023 New Era  e In A Dub Style também contam com participações de figuras célebres do grime e da cena dub de Bristol tais como Rider Shafique, DJ Stryda e Digistep (aka Dubkasm).
 


Mammal Handsde Norwich
Formado por Jordan Smart (saxofones, clarinetes), Nick Smart (piano), Jesse Barrett (bateria e tablas) e músicos convidados, a banda combina uma liga inebriante de ambient music, spiritual jazz, música eletrônica, música erudita, world music, trip-hop e minimalismo contemporâneo, por vezes mostrando influências de músicos históricos e legendários tais como o saxtenorista Pharoah Sanders, o saxofonista etíope Gétachèw Mekurya, os mestres minimalistas Terry Riley e Steve Reich e o tablista indiano Sirishkumar Manji, sem mencionar sua conexão com músicos e bandas contemporâneas que exploram essa verve do minimalismo crossover, como é o caso do trio Gogo Penguin e do Portico Quartet, com os quais já contracenaram em shows e turnês. Com melodias cíclicas e repetitivas ——  com mais passagens previamente arranjadas do que propriamente improvisadas ——, os três músicos do Mammal Hands contracenam sempre numa dinâmica colaborativa, sem sobressalências de solos individuais, sempre numa unidade onde os três músicos tocam juntos em sobreposições para preencher bem os arranjos. Interessante notar como que, em meio a essa verve mais crossover, etérea e minimalista, a banda também sempre atua com elementos contrastantes advindos, por exemplo, da música sufi e xamânica do oriente médio, passando por elementos hindustanis, africanidades... e voltando-se, por vezes, ao folk irlandês, às canções medievais bretãs e inglesas e outras influências que eles abstraíram da tradição folk de Nowirch, resultando em combinações não menos que inebriantes.
 


Nubya Garcia (saxofonista)de Londres
Filha de mãe da Guiana Inglesa e de pai de Trinidad & Tobago, Nubya Garcia é uma figura influente na cena do jazz contemporâneo londrino. Sendo uma das beneficiárias dos programas da legendária Tomorrow's Warriors, organização dirigida pelo influente contrabaixista Gary Crosby, Nubya Garcia também é da mesma turma de formandos, do Conservatório de Música e Dança Trinity Laban, em que estavam o tecladista Joe Armon-Jones (posteriormente membro do Ezra Collective) e o atualmente influente baterista Moses Boyd, portanto sendo remanescente da mesma trupe de músicos que estão rejuvenescendo o jazz contemporâneo sob influências advindas da diáspora afro-britânica, com muito uso dos elementos de reggae, soca, calypso, cumbia, música afro-cubana e estilos de música eletrônica como o dubstep, o jungle, o footwork, o grime e o drum'n'bass. Embora também tenha a opinião de que o rótulo "jazz" seja limitante para definir toda as fusões e toda a riqueza cultural que envolve o gênero nos EUA, na Grã-Bretanha e no mundo, Nubya Garcia possui uma latente musicalidade voltada para o spiritual jazz, o post-bop e o modal jazz mais vintage, com ecos advindos de lendas do saxofone tenor tais como Dexter Gordon, John Coltrane, Sonny Rollins, Joe Henderson e Wayne Shorter, evidenciando um timbre forte e uma vibe quente e envolvente. Possui três álbuns muito interessantes e divertidos: Nubya's 5ive (2017), Source (2020) e o álbum de remixes Source ⧺ We Move (2021) com vários participantes célebres. Sendo uma representante da participação da mulher nas instâncias mais criativas e inovadoras da música britânica, Nubya Garcia também faz parte de um septeto de mulheres chamado Nérija.
   


Cassie Kinoshi (saxofonista) & SEED Ensemblede Londres
Também sendo uma das beneficiárias do Tomorrow's Warriors e uma das formandas do Conservatório de Música e Dança Trinity Laban, Cassie Kinoshi é uma das figuras da cena jazzística de Londres que mais desenvolveu um tino sofisticado nos campos dos arranjo e da composição. Mais ambientada em inspirações, elementos, temáticas e influências das diásporas africana, afro-caribenha e afro-britânica, em 2016 Cassie Kinoshi formou o SEED Ensemble como forma de celebrar toda essa diversidade afro que hoje predomina na Grã-Bretanha. Mas é interessante notar que, diferentemente de alguns dos seus colegas da cena londrina que se ambientam numa representatividade mais tribal, Cassie Kinoshi evidencia uma visão mais moderna, contemporânea e até afro-futurista da diversidade e da diáspora. Dessa forma, o SEED Ensemble tem sido um dos coletivos mais elogiados da cena londrina, justamente  pela combinação de composições e arranjos sofisticados com um olhar consciente sobre a sociedade e a cultura britânicas. Cassie Kinoshi também é membro do grupo de afrobeat Kokoroko e do sexteto de mulheres Nérija, juntamente com Nubya Garcia, da qual já falamos acima. Em 2019, o SEED Ensemble foi indicado ao prêmio Mercury Prize por seu álbum Driftglass e, a partir daí, Cassie Kinoshi continuou sua guinada para um reconhecimento cada vez maior da sua proficiência nos campos da composição e do arranjo, sendo requisitada e comissionada para escrever peças para balé e teatro, tendo recebido, inclusive, encomendas do National Theatre (Top Girls ), do Old Vic Theatre e da Orquestra Sinfônica de Londres. O último registro de Cassie Kinoshi, Gratitude (2024), foi lançado pela gravadora americana International Anthem e tem participações da DJ NikNak (da cena de Leeds) e da London Contemporary Orchestra.
   

Emma Rawicz (saxofonista)de Londres
Das figuras aqui relacionadas, Emma Rawicz é uma das mais novas revelações da cena jazzística de Londres. Mas Emma Rawicz já é mais afeita à essência do post-bop acústico de verve mais modal e sinestésica, com inspirações e elementos mui bem diluídos e amalgamados em arranjos e harmonias mui sofisticados e coloridos, diferindo-se dos músicos e das bandas londrinas que se ambientam mais sugestivamente nos elementos do dub, da eletrônica e nos aspectos tribais e diaspóricos advindos da chamada "Windrush Generation". Nascida em North Devon, e com um sobrenome polonês que vem de seu avô nascido em Varsóvia, um remanescente da Segunda Guerra Mundial que se estabeleceu no Reino Unido, entre os dezesseis e os dezessete anos a saxofonista já liderava sua banda em várias apresentações em festivais internacionais e já negociava e administrava sozinha sua agenda de shows e turnês. Agora mais recentemente, ao chegar na faixa dos seus vinte e poucos anos, ela se estabeleceu com um quinteto fixo e até fundou sua própria big band, tendo sido uma das principais atrações do legendário clube londrino Ronnie Scott's. Emma Rawicz também ganhou notoriedade como Revelação de 2022 no Parliamentary Jazz Awards, foi indicada ao FM Awards e foi finalista na competição BBC Young Jazz Musician. E já é em 2023 que ela lança seu primeiro tento, o ótimo álbum "Chroma", já sob a produção de um grande selo, a gravadora alemã ACT Music. O título do álbum, "Chroma" (que significa cor ou tinta, em grego), advém do fato de que Emma Rawicz é uma sinesteta: ou seja, sua experiencia sensorial, improvisacional e composicional com a música está intrinsecamente ligada à sensação de que cada ton harmônico representa uma cor. Com grande variedade de cores melódico-harmônicas e com grande capacidade de frasear improvisações criativas e intrincadas, Emma Rawicz tem sido altamente aclamada pela crítica especializada.
 


Emma Jean-Thackray (multiinstrumentista, produtora)do Sul de Londres
A aclamada produtora, vocalista, DJ, radialista e multiinstrumentista Emma Jean-Thackray nasceu e cresceu em Yorkshire, mas hoje mora em Catford, sudeste de Londres. Ela também foi da mesma turma de mestrado que se formou no Trinity Laban e revelou talentos como Moses Boyd e Nubya Garcia. Mas ela conta em entrevistas que, apesar nutrir muitas influências em comum com esses seus  amigos de turma, ela sempre foi uma jovem nerd que se sentia um tanto descolada dos grupos e das tendências que faziam a cabeça da galera, algo que logo a obrigou a encontrar seu próprio som, sua própria química de fusões, seu próprio estilo. Uma primeira influência foi Miles Davis e o jazz-fusion dos anos 70. Depois ela entrou em contato com o techno-house e com as produções de hip hop de figuras tais como J Dilla e Madlib. Sun Ra também se tornou uma influência obrigatória. Mas, de fato,  Emma Jean-Thackray canalizou todas essas e outras influências de forma muito particular, sempre indo numa direção a criar seu próprio "mantra musical". Já tendo ao menos cinco registros lançados em seu nome, seu estilo é marcado por temáticas cósmicas, influências do taoísmo e uma abordagem mais voltada às atmosferas do lounge, ao spiritual jazz, ao nu jazz e ao acid-house, com ela se revezando entre teclados, synths, toca-discos, trompete, guitarra, bateria e vocais —— na verdade, ela toca vários outros instrumentos. Ademais, sua produção musical por vezes retorna com foco para estilos de jazz-funk, grooves e eletrônica que dantes faziam a trilha das pistas de dança, mas que, na atualidade, estão  distantes da cena clubber do Reino Unido —— um direcionamento que, por vezes, dá até um certo toque de nostalgia às suas produções. Também é sabido que Emma Jean-Thackray é um tanto meticulosa e exigente em suas produções de estúdio, muitas das vezes preferindo manipular e unir partes pré-gravadas, recortes e fragmentos de arranjos demoradamente até que se encontre a liga e a química musical perfeita. Sempre em busca de independência criativa, mais recentemente ela fundou sua própria gravadora, a Movementt, selo através do qual licencia suas produções para também serem lançadas pela renomada Warp Records, de Sheffield.
   


KOKOROKOde Londres
Formado por um naipe de sopros com sax, trompete e trombone somado com teclas, guitarra, contrabaixo, bateria e percussões tribais, o Kokoroko (estilizado como KOKOROKO ) é um coletivo de oito integrantes fixos (mais convidados pontuais), sendo que ao menos três desses integrantes são mulheres. Alguns dos integrantes foram, inclusive, beneficiários dos programas educacionais da legendária organização Tomorrow's Warriors, de Gary Crosby. Com sede em Londres, o grupo é liderado pela trompetista Sheila Maurice-Grey e seu estilo centra-se numa miríade de abordagens em torno do afrobeat e do highlife, com a africanidade da diáspora afro-britânica sendo, portanto, o foco essencial do coletivo. Sheila Maurice-Grey conta, inclusive, que ela e suas amigas formaram o grupo justamente pela insatisfação de ver o afrobeat e o highlife, estilos principais da África Ocidental, sendo pouco representado na cena londrina ou sendo, por muitas vezes, deturpado sob o rótulo "world music". É, atualmente, uma das bandas mais virais do Reino Unido: em 2019, sua faixa "Abusey Junction" obteve 23 milhões de visualizações no YouTube, sem mencionar as várias vezes em que suas músicas e seus registros estiveram nos top charts, na lista de "mais tocados" das plataformas de streaming e nas listas de "melhores" das revistas e jornais. Em fevereiro de 2020, eles ganharam o prêmio de Melhor Grupo no Urban Music Awards e, em setembro de 2020, eles tocaram para um grande público no BBC Proms, no Royal Albert Hall. Seu registros incluem dois EP's, Kokoroko (2019) e Baba Ayoola / Carry Me Home (2020), e um álbum mais extenso chamado Could We Be More (2022), lançado pela Brownswood Records, de Gilles Peterson.



Matthew Halsall (trompetista, produtor)de Manchester
Sediado em Manchester, Matthew Halsall está entre as figuras mais imprescindíveis do jazz contemporâneo do Reino Unido. Além de trompetista, multi-instrumentista, compositor e produtor, ele é audiófilo e fundador da gravadora de jazz independente Gondwana Records, por meio da qual ele apoia a cena e impulsiona vários artistas e bandas célebres e emergentes do Norte da Inglaterra, incluindo nomes tais como Hania Rani, Mammal Hands, Svaneborg Kardyb, Jasmine Myra, Portico Quartet, Chip Wickham, Sunda Arc e GoGo Penguin. Sua proeminência começa na segunda metade dos anos 2000, época em que ele funda sua gravadora e lança seu primeiro tento: Sending My Love (Gondwana Records, 2008). O sucesso veio com seu terceiro álbum On the Go em (Gondwana Records, 2011), pelo qual recebeu o Gilles Peterson Worldwide Winners Award e foi indicado como melhor artista de jazz no MOBO Awards de 2011. Aficionado por peças mais bem arranjadas com variações de loops e camadas, em 2014 ele também funda sua Gondwana Orchestra, com a qual lança seu seu quinto álbum When the World Was One. Seu estilo está centrado em peças longas com camadas meditativas e loops melódicos simples, sempre com caráter cíclico e repetitivo, com ecos que vai do spiritual jazz ao trip-hop, incluindo pitadas de minimalismo e world music aqui e ali, frequentemente utilizando camadas de sons ressonantes e efeitos percussivos relaxantes através do uso de harpas, kalimbas, glockenspiel, vários tipos de piano, celestas, sinos, triângulos e afins. Entre suas influências citadas estão Don Cherry, Alice Coltrane, Pharoah Sanders, Miles Davis, The Cinematic Orchestra, Mr. Scruff, Madlib e Saint Germain.