Em 2022 elencamos aqui uma série de registros interessantes de músicos brasileiros hiper criativos que tiraram seus projetos do baú ou da cartola entre o período pandêmico de 2020 e 2022. Destaco aqui, entre eles, ao menos cinco exemplos lançados em 2022: o ótimo álbum Martelo (resenhado aqui no blog) do pianista mineiro Rafael Martini, onde combina-se temas de efeitos composicionais eficientemente bem estruturados com efeitos timbrísticos e efeitos eletrônicos; o álbum em dueto (ainda não resenhado aqui até o momento) Arco de Rio do pianista/ tecladista André Mehmari com a violinista/ rabequista Catarina Rossi, onde ambos aliam os timbres desérticos e sertanistas da rabeca brasileira com os timbres do piano e sintetizadores, criando um design sonoro que amalgama o arcaico com o contemporâneo; o inovador dueto da vocalista Tarita de Souza com o guitarrista e tecladista Rodrigo Bragança; o álbum misto de grooves e brasilidades do contrabaixista Michael Pipoquinha; e o álbum Coreografia do Encontro, onde o contrabaixista João Taubkin faz um encontro dos elementos da música popular com a música erudita de câmera. Já no campo do jazz e da música improvisada, destaco registros de alguns nomes tais como: o distinto trompetista Kirk Knuffke, que lançou o ótimo Gravity Without Airs com o contrabaixista Michael Bisio e o pianista Matthew Shipp; a fantástica jam band The Bogie Band, liderada pelo bandleader Stuart Bogie, que lançou o fantástico álbum The Prophets in the City com elementos de brass bands, eletrônica, livre improviso e composições e arranjos bem estruturados; a dobradinha de registros Amarylis & Belladona da guitarrista Mary Halvorson, onde ela faz uma intersecção da música improvisada com a música composicional mais camerística; o fantástico álbum Art.eria onde o Acoustic Electronic Ensemble de Barcelona cria um arrojado e futurista design sonoro; o espiritual álbum de post-bop The 7th Hand do jovem sax-altoísta Immanuel Wilkins, revelação da Blue Note; o álbum onde o sax-altoísta Miguel Zenón cria uma cartografia musical da América Latina; entre outros exemplos que seguem abaixo.
Rafael Martini - Martelo (Savassi Festival Records, 2022)
Catarina Rossi & André Mehmari - Arco de Rio (Estudio Monteverdi, 2022)
Brad Mehldau - Jacob's Ladder (Nonesuch, 2022)
Rodrigo Bragança & Tarita de Souza - Improvisions I: Sand Castles (Pés de Vento)
Boris Kozlov - Firts Things First (Posi-Tone Records, 2022)
VEIN Trio - Our Roots (Indepedent, 2022)
Dave Gisler Trio with Jaimie Branch & David Murray - See You Out There (Intakt, 2022)
Joey Alexander - Origin (Mack Avenue Records, 2022)
Mary Halvorson - Amaryllis & Belladona (Nonesuch, 2022)
Amanda Whiting - Lost In Abstraction (Jazzman Records, 2022)
Michael Pipoquinha - Um novo tom (Umbilical Records, 2022)
Geoffrey Keezer & Friends - Playdate (MarKezz Records, 2022)
Oded Tzur - Isabela (ECM Records, 2022)
Art.eria - Acoustic Electronic Ensemble (2022)
Okkyung Lee/ Jérôme Noetinger/ Nadia Ratsimandresy - Two Duos (2022)
From Anew Dawn - Kyoto Jazz Massive (Extra Freedom, 2022)
Alex Sipiagin - Acent to the Blues (Posi-Tone Records, 2022)
Émile Parisien - Louise (ACT, 2022)
The Bogie Band - The Prophets in the City (Royal Potato Family, 2022)
John Escreet/ Pera Krstajic/ Anthony Fung - Cresta (2022)
Alexander Hawkins - Brake a Vase (Intakt, 2022)
David Binney - Tomorrow's Journey (Ghost Note Records, 2022)
Ches Smith - Interpret It Well (Pyroclastic Records, 2022)
Gordon Grdina's Nomad Trio - Boiling Point (Astral Spirits, 2022)
Carlos Niño & Friends - Extra Presence (International Anthem, 2022)
Kirk Knuffke Trio - Gravity Without Airs (Tao Forms, 2022)
Seabrook, Cleaver, Cooper-Moore - In The Swarm (Astral Spirits, 2022)
Vadim Neselovskyi - Odesa - Solo Piano (Sunnyside, 2022)
Immanuel Wilkins - The 7th Hand (Blue Note, 2022)
Jon Irabagon - Rising Sun (Irabbagast Records, 2022)
Barney McAll - Transitive Cycles (Extra Celestial Arts, 2022)
João Taubkin - Coreografia do Encontro (Tratore, 2022)
Miles Okazaki - Thisness (Pi Recordings, 2022)
Miguel Zenón - Música de Las Américas (Miel Music, 2022)
Daniel Villarreal - Panamá 77 (International Anthem, 2022)
The Sound Of Listening (Edition Records, 2022)
jaimie branch & Jason Nazary - Anteloper - Pink Dolphins (International Anthem)
No campo mais experimental dos trabalhos mais inclassificáveis destaco os seguintes álbuns abaixo. Destaco o duo Radio Diaspora (do trompetista brasileiro Romulo Alexis, entrevistado aqui no blog meses atrás) que segue lançando suas explorações com sopros (trompete, flautas, boquilhas e outros sopros variados), bateria, samples e variados efeitos eletrônicos: o duo explora uma verve temática de aspectos afro-diaspóricos, expondo e exorcizando os signos em torno do preconceito racial num misto de improvisações e colagens com inúmeros samples e efeitos -- um trabalho experimental dos mais interessantes no campo da música improvisada e experimental no Brasil! Também achei muito impactante o álbum Blind (Brainfeeder, 2022) do DJ holandês Jameszoo, onde ele mistura eletrônica de rítmicas e arritmias anacrônicas com extratos de free music de uma forma não menos que inovadora! Destacamos também o compositor e tecladista brasileiro Fernando Moura, que lançou um conjuntos de entusiasmantes explorações eletrônicas que ele gestou no período pandêmico. Também resenhamos aqui o álbum ¡Ay! (RVNG, 2022) da DJ colombiana Lucrecia Dalt, onde ela mistura aspectos rítmicos e cancionistas da cultura popular colombiana com seus conceituais efeitos eletrônicos. E destacamos aqui também o álbum Music for Doing (Colorfield Records, 2022) do baterista de jazz Mark Guiliana, que tem feito um trabalho experimental e inovador no âmbito de misturar elementos da percussão e da bateria jazzística com a eletrônica contemporânea, baseando-se, por exemplo, nos registros de Squarepusher.

Radio Diaspora - Ori (Brava, 2022)
Jameszoo - Blind (Brainfeeder, 2022)
Fernando Moura - Sozinho no Paraíso (Deck, 2022)
Lucrecia Dalt - ¡Ay! (RVNG, 2022)
Mark Guiliana - Music for Doing (Colorfield Records, 2022)
Carl Stone - Wat Dong Moon Lek (Unseenworlds Records, 2022)
Na música erudita contemporânea, tivemos muitas boas surpresas em 2022! No Brasil, o compositor André Mehmari (entrevistado recentemente aqui no blog) foi um dos destaques, tendo obras suas sendo estreadas e registradas pela Orquestra Sinfônica Brasileira (Suíte Meu Brasil) e Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-São Paulo (Portais Brasileiros No.2, obra estreada no Carnegie Hall sob a batuta do maestro João Carlos Martins), e tendo o single de uma interessante peça sua sendo lançado Selo Sesc (vide a peça Iluminuras, clique abaixo para ouvi-la). No âmbito internacional, focamos aqui no blog em mostrar as últimas produções do que se rotula nos criativos circuitos americanos como "new music" e "indie contemporary classical music" através dos lançamentos dos selos New Amsterdam Records, Cantaloup Music e New Foscus Recordings, selos pelos quais podemos acompanhar obras de compositores como Judd Greenstein, Jason Treuting, Finola Merivale, Tyonday Braxton, entre outros. O selo inglês Nonclassical -- gerido pelo compositor e DJ Gabriel Prokofiev (neto do russo Sergei Prokofiev) -- também foi uma das fonte mais ricas de novos registros: o impactante álbum ilolli-pop (Nonclassical, 2022) de Alex Paxton é um dos destaques principais da gravadora! Outro destaque interessante em nossas pesquisas auditivas de 2022 foram as peças eruditas para percussão: foram lançados diversos álbuns interessantes nesse rico campo de exploração da música, e incluo como destaque abaixo álbuns seminais lançados por Jason Treuting (do Sō Percussion), pelo ensemble Third Coast Percussion e pelo Sandbox Percussion, que registra a obra ganhadora do Pulitzer Prize 2022 Seven Pillars, do compositor Andy Akiho. Também destaco abaixo o registro da peça experimental "peace places: kenyan memories" da compositora queniana Nyokabi Kariũki, uma das obras de 2022 mais elogiadas mundo afora. Ademais, um dos compositores que deram o que falar em 2022 foi o americano Anthony Davis, que reapresentou sua ópera X: The Life and Times of Malcolm X no Teatro de Detroit com aclamação de crítica e teve essa sua obra prima registrada pelo selo BMOP/sound através da Boston Modern Orchestra Project. O álbum Telekinesis (New Amsterdam Records, 2022) de Tyondai Braxton também é super criativo e pode surpreender o ouvinte mais experimentado!
.jpg)
André Mehmari - Iluminuras (Selo Sesc, 2022)
Alex Paxton - ilolli-pop (Nonclassical, 2022)
Andy Akiho & Sandbox Percussion - Seven Pillars (Aki Rhythm Press, 2021)
Judd Greenstein & yMusic - Together (New Amsterdam Records, 2022)
Third Coast Percussion - Perspectives (Cedille, 2022)
Nyokabi Kariũki - peace places: kenyan memories (SA Recordings, 2022)
Anthony Davis - X: The Life and Times of Malcolm X (BMOP/sound, 2022) - Boston Modern Orchestra Project
Jason Treuting - Nine Numbers (Cantaloupe Music, 2022)
Finola Merivale - Tús (New Focus Recordings, 2022)
Tyondai Braxton - Telekinesis (New Amsterdam Records, 2022)
Eren Gümrükçüoğlu - Pareidolia (New Focus Recordings, 2022)
Bergamot Quartet - In the Brink (New Focus Recordings, 2022)